Quando se deve iniciar aulas ou treinamentos de natação para grupos de alunos e de nadadores durantea pandemia? Uma turma de natação na piscina pode se transformar em um ambiente de transmissão do novo coronavírus? Medição de temperatura na entrada, álcool em gel nas mãos, tapetes sanitizadores, máscaras, protetores faciais em acrílico, ambientes abertos e todos os demais protocolos de biossegurança criados são realmente seguros e eficazes para aulas de natação? As repostas a essas perguntas podem ser respondidas de acordo com o controle que se tem da pandemia, ou seja, quando os índices de contágios pelo novo coronavírus estiverem em fase ascendente, significa que a pandemia está fora de controle e portanto não deve haver aulas com grupos ou turmas de natação. Não importa o quanto sejam rígidos e seguros os protocolos de biossegurança ou as normas de proteção, os participantes das aulas sempre estarão sobre risco iminente de contágios quando a pandemia não estiver sob controle, seja em qualquer região, cidade ou país. No caso de Goiás, os dados apontam alta de contágios e patamares elevados de transmissão do vírus e também de óbitos (ver gráfico acima).
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), existem seis critérios científicos importantes (e não apenas políticos ou eleitoreiros) para se verificar o real controle sobre a pandemia e assim estabelecer o início da abertura gradativa sobre a quarentena, onde países, estados e municípios devem observar antes de flexibilizarem as regras de isolamento social e assim estabelecerem cronogramas para a abertura de atividades tais como: comércio, indústria e instituições educacionais, incluso aqui também as aulas de natação. São critérios científicos e adotados por diversos países, que diferentemente do Brasil, conseguiram controlar a pandemia do novo coronavírus no primeiro semestre de 2020. Somente estes critérios são capazes de definir com exatidão e segurança qual o momento exato para se permitir a abertura e flexibilização das diversas atividades humanas na área da economia, lazer, entretenimento, esporte e educação.
Sabemos que atualmente uma voraz e rápida segunda onda de contágios
avança sobre aqueles países de diversas regiões do planeta, principalmente da Europa, que tomaram as
medidas corretas no seu devido tempo, mas os índices de contágios e de
óbitos voltaram a subir de forma drástica e descontrolada nestas mesmas regiões a partir deste mês de setembro (2020),
provando que o vírus é muito mais perigoso do que se imagina. Entretanto, estes
países além de terem reduzido o número de óbitos e de contágios durante o
primeiro semestre deste ano, conseguiram também ganhar mais tempo para lidar em com a pandemia, preparando melhor o sistema de saúde, entendendo a complexidade
do comportamento do vírus e os procedimentos mais adequados de tratamento aos
infectados. No Brasil, ao contrário, assistimos a própria natureza sozinha
desacelerar o ritmo e a velocidade dos contágios com a chamada imunidade
coletiva, onde um gigantesco número de mortos e também de milhões de pessoas já infectadas
e que adquiriram a imunidade ao vírus, formam o grande grupo que é então capaz de “quebrar naturalmente” a cadeia de contágios do Sars-Cov-2.
Os mortos e as pessoas já imunes formam os chamados “clusters”, que são os
grupos ou barreiras que espontaneamente “freiam” a propagação acelerada do
vírus, deixando o novo coronavirus sem muitas opções de efetuar novos
contágios. Porém, o preço que estamos pagando pela chamada imunidade de grupo ou imunidade coletiva é
de fato altíssimo: mais de 135 mil mortes no Brasil até o momento, com uma média assustadora de 1.000 mortes diárias.
Sendo assim, fica claro que
não se deve abrir escolas de natação ou montar turmas de natação na atual fase de crescimento
da pandemia em Goiás. Os números, mesmo sendo subnotificados, apontam que o
vírus ainda está totalmente fora de controle na capital e cidades do interior
de Goiás. A questão não é qual o melhor protocolo de segurança que se deve construir
para um projeto de aulas de natação, mas sim que as aulas presenciais de
natação devem ser mantidas suspensas para a segurança de professores, alunos e
de funcionários. A pandemia em Goiás continua fora de controle porque nunca
houve e ainda não há a aplicação de medidas eficazes de isolamento social e de fomento financeiro
aos trabalhadores e aos pequenos e médios empresários por parte do governo, de forma que garantisse uma quarentena contínua
e eficiente no momento que era o adequado. A realidade é que nunca houve quarentena de verdade em
Goiás e em nenhum outro estado do Brasil, pois não foram criadas políticas públicas eficazes nesse
sentido, e isso explica o número exagerado de contágios e de mortes (genocídio).
Vamos então aos critérios da
OMS que podem nortear a abertura gradual e escalonada de todas as atividades no período de quarentena, inclusive de escolas e também de turmas de natação em Goiás e em qualquer outro lugar do mundo. O primeiro
critério, segundo a OMS, diz que a cidade ou região deve possuir um
sistema de saúde capaz de identificar, testar, isolar, rastrear todos os
contatos e tratar as pessoas infectadas. Os gestores devem realizar testagem em massa, identificar os infectados, isolá-los, rastrear todos os seus contatos e em seguida ofertar tratamento médico a todos eles. O segundo critério é a garantia
de que os locais de trabalho e os demais ambientes frequentados por todas as pessoas sejam
locais seguros contra os contágios. Podemos incluir neste item as escolas de natação e todo o seu ambiente formado por piscinas, salas, pátios, vestiários, academias anexas, secretarias, salas de recepção e etc. O terceiro
critério diz respeito a adoção de barreiras sanitárias para atender os
casos de pessoas já contaminadas e cuja origem seja de fora da cidade ou do
país (casos importados). O quarto critério é o controle de
eventuais surtos em locais estratégicos como hospitais e casas de repouso. O quinto
critério é a adoção de medidas preventivas para a conscientização da
população com relação à pandemia e suas formas de contágio. O sexto e último
critério sugere que a reabertura e flexibilização das atividades
econômicas, sociais e culturais devem
ocorrer somente quando as taxas de contágios estiverem em queda, ou seja,
somente quando a pandemia estiver sob controle.
Uma regra importante e que
não foi listada pela OMS é a adoção de políticas econômicas robustas de fomento
para as empresas e para todos os trabalhadores de atividades não essenciais que
foram obrigados a participarem do isolamento social e quarentena. Aqui se poderia incluir professores de natação, funcionários de escolas de natação, proprietários de academias e escolas de natação.
Assim sendo, vemos que em
Goiás e em Goiânia, os gestores públicos não adotaram e continuam ainda não adotando de
forma integrada nenhuma dessas seis
medidas para a reabertura. O que presenciamos são flexibilizações precoces e
aligeiradas vinculadas a questões político eleitorais e que não levam em conta a saúde da população e nem consideram a promoção da retomada do crescimento econômico. Essas questões elencadas e somadas com o não planejamento de ações e as narrativas negacionistas reproduzidas pelos gestores com relação à pandemia, são de fato as grandes responsáveis pelo número exagerado de mortes e de contágios em Goiás. E
os professores de Educação Física e todos os demais trabalhadores em geral, estão
arriscando as suas próprias vidas para a manutenção diária de suas necessidades
materiais e financeiras, porque não existe nenhuma ação coordenada para a
promoção do controle da pandemia por parte dos governos (Municipal, Estadual e Federal) e inexiste também qualquer forma de assistência social às comunidades de trabalhadores afetadas pela pandemia, incluso aqui os professores de academias e de natação.
Estamos todos largados à própria sorte e o vírus infelizmente continua nadando de braçada e
ceifando milhares de vidas.