A Natação e os Super-spreaders

 



 (Escrito por Renato Coelho)

No dia 05/10/2020 o chamado Centro de Prevenções para Doenças (CDC) dos EUA divulgou em seu site (https://www.cdc.gov/) uma importante informação sobre os novos mecanismos de transmissão do vírus Sars-Cov-2. Foi confirmado pela comunidade científica internacional que a Covid-19 pode ser transmitida pelo ar em ambientes fechados ou com ventilação inadequada, desde que a pessoa contaminada pelo vírus esteja respirando profundamente dentro destes locais, como por exemplo, se estiver cantando ou se exercitando. Esse tema já vinha sendo discutido e debatido por médicos e cientistas em todo o mundo, mas somente agora foi confirmada pela comunidade científica internacional.

Essa confirmação demonstra que o novo coronavirus pode ser transmitido na forma de aerossóis, em pequenas partículas que ficam em suspensão no ar por um período de tempo prolongado e em ambientes fechados. Nestes casos a proteção por máscaras não funcionam, já que estes equipamentos de proteção servem de barreira física apenas para gotículas “pesadas” que caem perfazendo trajetórias balísticas  rumo ao chão ou pequenas partículas que contenham o vírus e que são atraídas para baixo pela gravidade, como por exemplo, gotas de saliva expelidas pela boca de uma pessoa contaminada. Os aerossóis que contém o vírus, ao contrário daquelas, são minipartículas que “flutuam” no ar, que podem atravessar as camadas de proteção das máscaras e assim entrar  no sistema respiratório das pessoas que frequentam estes mesmos ambientes fechados e sem ventilação (ver figura 01 abaixo). Os aerossóis são partículas tão leves e minúsculas que podem levar o vírus a uma distância até mesmo superior a dois (2) metros de distância. Mesmo que a pessoa infectada já tenha saído daquele ambiente fechado, existe ainda a probabilidade de contágio por terceiros que adentrem tais espaços num período de tempo posterior. As partículas virais em suspensão no ar na forma de aerossóis podem ficar por horas seguidas flutuando no ambiente, em recintos fechados e não arejados. Essa nova informação prova que o vírus Sars-Cov-2 apresenta uma transmissão mais alta e perigosa do que se pensava anteriormente. Essas evidências exigem a tomada de maiores cuidados de proteção e na revisão dos protocolos de segurança contra a Covid-19, principalmente no que concerne às aulas de natação ou de educação física em geral.



Figura 01 - A propagação dos aerossóis pelo ar


Quando em ambientes fechados e sem ventilação adequada o vírus Sars-Cov-2 pode se transformar em aerossóis e contaminar pessoas mesmo que utilizem máscaras e ainda num raio superior a 2m de distância, significando que no período de pandemia deve-se evitar salas e ambientes fechados sem ventilação, pois os protocolos já conhecidos como a utilização de máscaras e o distanciamento social não são eficazes nestas situações.

 


Figura 02 - Piscina construída em ambiente aberto

 

 


Figura 03 - Piscina construída em ambiente fechado

 

Essas novas evidências sobre o comportamento do novo coronavirus colocam o mundo em alerta no que tange a assuntos sobre regimentos e as regras atuais  de proteção e combate à covid-19. No caso de frequência de pessoas em  escolas, universidades, escolas de natação e em academias de ginástica, em que podem existir salas ou ambientes fechados e sem ventilação, além da abertura destes locais terem que  respeitar os critérios de flexibilização para funcionamento que levem em consideração a queda no número de contágios e no controle da pandemia na cidade ou país em questão, devem ser revistos também as características arquitetônicas destas instituições,  a fim de se manter a segurança de seus frequentadores em relação ao contágio da covid-19.

Na Figura 02 vemos uma piscina construída em espaço aberto, que permite ventilação natural e contínua, diminuindo a probabilidade de contágios pelo novo coronavírus, desde que mantidos todos os protocolos de biossegurança e a observação das taxas (Rt <1) de crescimento da pandemia. Já na Figura 03 acima temos uma piscina construída num ambiente fechado, o que aumenta a probabilidade de contágios e da formação de aerossóis do novo coronavírus a depender da quantidade de pessoas no seu interior e dos contatos. Essa última arquitetura de piscinas não é recomendada para este atual momento de pandemia. Recomenda-se aulas nestes ambientes apenas quando Rt < 1 e as normas de biossegurança sejam seguidas. Todas as janelas dos ambientes de piscinas fechadas devem sempre estar abertas para maior ventilação e arejamento. Não se recomenda neste dado momento a utilização de piscinas em ambientes fechados e com ar condicionado.



FIGURA 04 - A fluidodinâmica dos contágios pelo novo coronavírus: gotículas e aerossóis

Essas novas e preocupantes informações com relação ao comportamento do novo coronavírus, e que vem sendo aos poucos descobertas e reveladas publicamente pela comunidade científica internacional, colocam todos os professores de educação física dentro de um novo contexto profissional, num novo processo contínuo de reavaliação processual e metodológica, tendo que repensar incessantemente a realização ou a não realização das suas práticas em determinados ambientes e com determinados conteúdos, haja visto que vivemos um momento de flexibilização total de todas as atividades, sem, no entanto, um embasamento técnico-científico de segurança para abertura e funcionamento principalmente de escolas e de academias de ginástica, ficando as tomadas de decisões embasadas apenas em sugestões ou especulações de políticos ou de empresários, que em sua maioria, não possuem conhecimento ou compromisso com as questões de saúde pública, e colocando os lucros acima das vidas humanas.




Figura 05 - Espalhamento de partículas por aerossóis em ambientes fechados

Ao final de tudo, todas as decisões importantes acabam caindo nas mãos dos professores de escolas ou de academias, decisões sobre a vida e sobre a morte, em que pese a ausência total de políticas públicas governamentais de mitigação dos contágios da covid-19 e de eficiência no programa de vacinação. Assim sendo, tais decisões que deveriam ser coletivas e pautadas na ciência e na saúde pública, terminam sendo decisões meramente reativas e não pró-ativa,  de tal modo que não é capaz de antecipar e equipar as políticas públicas ao crescimento dos contágios e óbitos pela covid-19. Daí os motivos que explicam o Brasil ocupar de forma vergonhosa as primeiras posições de contágios e de óbitos pela covid-19 em todo o mundo. De qualquer forma é aconselhável sempre o uso de máscaras em locais públicos e a manutenção do distanciamento social.

Atualmente várias regiões do mundo vem enfrentando uma forte terceira onda da pandemia do novo coronavírus, inclusive o Brasil. Em quase todos os estados do Brasil, a ocupação de leitos para UTI’s está novamente quase no limite de 100%, com indícios de colapso iminente do sistema de saúde. A terceira onda de contágios é consequência da falta de políticas públicas eficazes de prevenção e de mitigação dos contágios pelo vírus Sars-Comv-2. As flexibilizações precoces e  o lento processo de vacinação no Brasil servem de estopim para o surgimento desta iminente terceira onda da covid-19.

São vários os fatores envolvidos na mecânica de contágios através do novo coronavirus, que vão desde  a amplitude da mobilidade humana, o distanciamento social, a frequência de aglomerações de pessoas, a utilização ou não de máscaras, a velocidade da vacinação, testagem em massa, a implementação de lockdown, o isolamento social, as questões sócio-econômicas e a qualidade da chamada rede de atenção básica de saúde aos doentes. Todos estes fatores  estão correlacionados ao porcentual de contágios e de óbitos numa determinada região. Essas variáveis influenciam diretamente na velocidade de contágios e na dispersão da pandemia no mundo. Entretanto, pesquisas realizadas pela Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres (https://www.lshtm.ac.uk/) demonstram que cerca de 80% dos contágios da Covid-19 são transmitidos por cerca de apenas 10% dos contaminados. Por trás destes números se escondem  os chamados “super spreaders”, palavra que traduzida para o português significa “super espalhadores”, ou seja, existem certas pessoas e em determinados ambientes que juntos são capazes de transmitirem o vírus numa escala muito superior à média regional ou nacional de uma dada região ou país. O surgimento dos  “super spreaders”  está relacionado à dinâmica de propagação  e de contágio do vírus Sars-Cov-2.

Um “super spreader” não é uma pessoa, mas sim um conjunto de situações ou eventos sociais, que envolvem muitas pessoas, ambientes específicos e o vírus Sars-Cov-2. A combinação de certos locais, com aglomerações de pessoas e o vírus da covid-19, são os ingredientes necessários e suficientes para o surgimento dos “super spreaders”, ou seja, os ambientes ou eventos super espalhadores do novo coronavirus.

 


Figura 06 - Transmissão do vírus Sars-Cov-2 em evento super espalhador.

 

Na história recente da pandemia do novo coronavirus, existem vários registros e confirmações de eventos “super spreaders”. Um dos primeiros casos noticiados e documentados de ambientes super espalhadores ocorreu na cidade de Washington nos EUA, onde 61 membros de um coral se reuniram sem as medidas preventivas contra a covid-19, e um dos integrantes do coral, presente no encontro, estava contaminado pelo novo coronavirus, porém, era assintomático. Após a realização deste evento, 53 pessoas testaram positivas para a covid-19, 3 pessoas foram hospitalizadas e 2 morreram. [1] 

Outro exemplo de evento super espalhador ocorreu em uma igreja em Seul, capital da Coréia do Sul, onde uma mulher, membra da igreja e que apresentava sintomas leves da covid-19, frequentou uma reunião daquela igreja, onde todos os participantes tiraram as máscaras para a realização de uma liturgia eclesiástica, e ao final daquela reunião, segundo dados do próprio governo coreano, 43 fiéis da igreja foram contaminados por apenas essa única pessoa.

Ainda na Coréia do Sul, um homem de 29 anos e contaminado com a covid-19, frequentou cerca de cinco (5) boates em um único final de semana na capital Seul, e após dançar e beber com várias pessoas nas boates por onde passou, provocou um surto de covid-19 contaminando dezenas de pessoas, criando um evento denominado superespalhador. [2]

 


Figura 07 - O distanciamento social e a diminuição de contágios


Vários outros casos ocorridos também no Brasil podem ser relatados como exemplo de eventos super espalhadores, como os jogadores e a comissão técnica do Flamengo, que se contaminaram em viagem ao Equador durante a realização do torneio de futebol Libertadores da América no segundo semestre de 2020. Outro exemplo de ambiente super espalhador também ocorrido no Brasil, foi a posse do presidente do Supremo Tribunal Federal em setembro de 2020, onde a maioria dos convidados e membros da corte foram contaminados, mesmo seguindo protocolos rígidos de segurança contra a covid-19. Neste caso se destaca a aglomeração de pessoas num ambiente fechado com ar condicionado. A cerimônia durou mais de três (3) horas e as pessoas ficaram confinadas num lugar fechado e sem ventilação natural, e mesmo com distanciamento e o uso de máscaras, houve um grande número de contágios entre os participantes devido ao efeito aerossol do vírus Sars_Cov-2, permitindo o contágio pelo ar e tornando o salão do STF num espaço super espalhador. 

O evento super espalhador mais famoso e que ficou conhecido mundialmente foi a cerimônia na Casa Branca, realizada em setembro de 2020 e que contaminou o presidente e candidato à reeleição dos EUA, Donald Trump. Já neste caso não houve a utilização de máscaras pelos participantes e nem tão pouco foi respeitado o distanciamento social. Mesmo sendo um evento realizado ao ar livre, se transformou assim num super espalhador da covid-19 em virtude das intensas e constantes aglomerações naquele local.

Logo vemos que os chamados “Super spreaders” são eventos sociais capazes de potencializar a transmissão do vírus Sars-Cov-2. Se, por exemplo, numa cidade o índice de transmissão (Ro ou Rt) é alto e igual a 2 (Ro=2), significa que uma pessoa contaminada é capaz de transmitir o vírus para duas (2) outras pessoas. Mas no caso de um super espalhador, ele pode transmitir o vírus para 10, 50 ou 100 pessoas dependendo do contexto e não obedecendo a regra da constante de transmissibilidade Ro.

Qualquer ambiente onde ocorram aglomerações e não se respeitem as regras de distanciamento social e o uso correto de máscaras, pode se transformar em um potencial evento super espalhador. Inclusive ambientes fechados e pouco arejados, mesmo com as prevenções adequadas, podem também se transformar em super espalhadores, como no exemplo da cerimônia de posse no STF em Brasília.

Não existe um ambiente em si mesmo que seja super espalhador, esses ambientes são criados pela dinâmica de transmissão do vírus e também pelo contexto da aglomeração, e que combinados, bastando apenas a presença de um única pessoa positiva para a covid-19, faz então surgir o super espalhador e consequentemente potencializando os contágios.


Figura 08 - A - cadeia de contágios do coronavírus;  B - quebra da cadeia de contágios com o distanciamento social.



As academias de ginástica, colégios e as escolas de natação também podem  se transformar em ambientes super espalhadores, desde que os ingredientes citados acima estejam presentes. Estes ambientes são na sua grande maioria locais fechados com ar condicionado, com intensas aglomerações de alunos e funcionários. Ressalta-se ainda a realização, por parte dos praticantes, de uma respiração intensa e ofegante nestes ambientes, facilitando as transmissões virais, levando risco a todos os frequentadores destes espaços. 

Vale destacar que a transmissão mais importante para a covid-19 se dá essencialmente pelo ar, ou seja, o contágio ocorre através das vias respiratórias, e as transmissões por superfícies ou por contato são quase impossíveis, segundo pesquisas recentes.

Muitos dos protocolos planejados para as academias e escolas (incluímos aqui também as escolas de natação) em sua maioria não são eficazes no cotidiano brasileiro onde constantemente o índice de transmissão é maior do que 1 (Rt>1). Na data de hoje, na postagem deste texto, segundo o Imperial College de Londres, o Rt no Brasil equivale a 1,02.

E mais uma vez, tanto no ambiente escolar quanto nas academias, a educação física está sendo colocada em xeque, não pelo vírus Sars-Cov-2, mas pelo total descaso das autoridades e pelo mercado insaciável do capital, que exclui os trabalhadores e alunos da educação física do direito e acesso universal à vacina, à proteção e à saúde, impondo o desemprego e a fome àqueles que não tem opção em escolher entre a vida ou a morte dentro do contexto da super exploração do trabalho na pandemia.

[1] https://exame.com/ciencia/o-superpoder-de-espalhar-covid-19-por-que-alguns-transmitem-mais-o-virus/

 [2]  https://www.em.com.br/app/noticia/internacional/2020/05/13/interna_internacional,1146965/governo-investiga-quem-esteve-em-boate-contra-nova-onda-de-covid-19-n.shtml


 



 (Escrito por Renato Coelho)

No dia 05/10/2020 o chamado Centro de Prevenções para Doenças (CDC) dos EUA divulgou em seu site (https://www.cdc.gov/) uma importante informação sobre os novos mecanismos de transmissão do vírus Sars-Cov-2. Foi confirmado pela comunidade científica internacional que a Covid-19 pode ser transmitida pelo ar em ambientes fechados com ventilação inadequada, desde que a pessoa contaminada pelo vírus esteja respirando profundamente dentro destes locais, como por exemplo, se estiver cantando ou se exercitando. Esse tema já vinha sendo discutido e debatido por médicos e cientistas em todo o mundo, mas somente agora foi confirmada pela comunidade científica internacional.

Essa confirmação demonstra que o novo coronavirus pode ser transmitido na forma de aerossóis, em pequenas partículas que ficam em suspensão no ar por um período de tempo prolongado e em ambientes fechados. Nestes casos a proteção por máscaras não funcionam, já que estes equipamentos de proteção servem de barreira física apenas para gotículas “pesadas” que caem perfazendo trajetórias balísticas  rumo ao chão ou pequenas partículas que contenham o vírus e que são atraídas para baixo pela gravidade, como por exemplo, gotas de saliva expelidas pela boca de uma pessoa contaminada. Os aerossóis que contém o vírus, ao contrário daquelas, são nanopartículas que “flutuam” no ar, que podem atravessar as camadas de proteção das máscaras e assim entrar  no sistema respiratório das pessoas que frequentam estes mesmos ambientes fechados e sem ventilação (ver figura 01 abaixo). Os aerossóis são partículas tão leves e minúsculas que podem levar o vírus a uma distância até mesmo superior a dois (2) metros de distância. Mesmo que a pessoa infectada já tenha saído daquele ambiente fechado, existe ainda a probabilidade de contágio por terceiros que adentrem tais espaços. As partículas virais em suspensão no ar na forma de aerossóis podem ficar por horas seguidas flutuando no ar em recintos fechados e não arejados. Essa nova informação prova que o vírus Sars-Cov-2 apresenta uma transmissão mais alta e perigosa do que se pensava anteriormente. Essas evidências exigem a tomada de maiores cuidados de proteção e na revisão dos protocolos de segurança contra a Covid-19.

Figura 01 - A propagação dos aerossóis pelo ar

Quando em ambientes fechados e sem ventilação adequada o vírus Sars-Cov-2 pode se transformar na forma de aerossóis e contaminar pessoas mesmo que utilizem máscaras e ainda num raio superior a 2m de contatos, significando que no período de pandemia deve-se evitar salas e ambientes fechados sem ventilação, pois os protocolos já conhecidos como a utilização de máscaras e o distanciamento social não são eficazes nestas situações.


Figura 02 - Piscina construída em ambiente aberto


Figura03 - Piscina construída em ambiente fechado

Essas novas evidências sobre o comportamento do novo coronavirus colocam o mundo em alerta no que tange a assuntos sobre regimentos e as regras atuais  de proteção e combate à covid-19. No caso de frequência de pessoas em  escolas, universidades, escolas de natação e em academias de ginástica, em que podem existir salas ou ambientes fechados e sem ventilação, além da abertura destes locais terem que  respeitar os critérios de flexibilização para funcionamento que levem em consideração a queda no número de contágios e no controle da pandemia na cidade ou país em questão, devem ser revistos também as características arquitetônicas destas instituições,  a fim de se manter a segurança de seus frequentadores em relação ao contágio da covid-19.

Na Figura 02 vemos uma piscina construída em espaço aberto, que permite ventilação natural e contínua, diminuindo a probabilidade de contágios pelo novo coronavírus, desde que mantidos todos os protocolos de biossegurança e a observação das taxas (Rt) de crescimento da pandemia. Já na Figura 03 acima temos uma piscina construída num ambiente fechado, o que aumenta a probabilidade de contágios e da formação de aerossóis do novo coronavírus a depender da quantidade de pessoas no seu interior e dos contatos. Essa última arquitetura de piscinas não é recomendada para este atual momento de pandemia. Recomenda-se aulas nestes ambientes apenas quando Rt < 1 e as normas de biossegurança sejam seguidas. Todas as janelas dos ambientes de piscinas fechadas devem sempre estarem abertas para maior ventilação e arejamento. Não se recomenda neste dado momento a utilização de piscinas em ambientes fechados e com ar condicionado.

                                                     FIGURA 04 - A fluidodinâmica dos contágios pelo novo coronavírus: gotículas e aerossóis

Essas novas e preocupantes informações com relação ao comportamento do novo coronavírus, e que vem sendo aos poucos descobertas e reveladas publicamente, colocam todos os professores de educação física dentro de um novo contexto profissional, num novo processo contínuo de reavaliação processual e metodológica, tendo que repensar incessantemente a realização ou a não realização das suas práticas em determinados ambientes e com determinados conteúdos, haja visto que vivemos um momento de flexibilização total de todas as atividades sem, no entanto, um embasamento técnico-científico de segurança para abertura e funcionamento principalmente de escolas e de academias de ginástica, ficando as tomadas de decisões embasadas apenas em sugestões ou especulações de políticos ou de empresários, que em sua maioria, não possuem conhecimento ou compromisso com as questões de saúde pública, colocando os lucros acima das vidas humanas.



Figura 05 - Espalhamento de partículas por aerossóis em ambientes fechados

Ao final de tudo, todas as decisões importantes acabam caindo nas mãos dos professores de escolas ou de academias, decisões sobre a vida e sobre a morte, em que pese a ausência total de políticas públicas governamentais de mitigação dos contágios da covid-19. Assim sendo, tais decisões que deveriam ser coletivas e pautadas na ciência e na saúde pública, terminam sendo decisões paliativas e que tangem apenas o âmbito do individual. Daí os motivos que explicam o Brasil ocupar de forma vergonhosa as primeiras posições de contágios e de óbitos pela covid-19 em todo o mundo. De qualquer forma é aconselhável sempre o uso de máscaras em locais públicos e a manutenção do distanciamento social.

 


A Natação e os Superspreaders

 



(Escrito por Renato Coelho)

Atualmente várias regiões do mundo vem enfrentando uma forte terceira onda da pandemia do novo coronavírus, inclusive o Brasil. Em quase todos os estados do Brasil, a ocupação de leitos para UTI’s está novamente quase no limite de 100%, com indícios de colapso iminente do sistema de saúde. A terceira onda de contágios é consequência da falta de políticas públicas eficazes de prevenção e de mitigação dos contágios pelo vírus Sars-Comv-2. As flexibilizações precoces e  o lento processo de vacinação no Brasil servem de estopim para o surgimento desta iminente terceira onda da covid-19.

São vários os fatores envolvidos na mecânica de contágios através do novo coronavirus, que vão desde  a amplitude da mobilidade humana, o distanciamento social, a frequência de aglomerações de pessoas, a utilização ou não de máscaras, a velocidade da vacinação, testagem em massa, a implementação de lockdown, o isolamento social, as questões sócio-econômicas e a qualidade da chamada rede de atenção básica de saúde aos doentes. Todos estes fatores  estão correlacionados ao porcentual de contágios e de óbitos numa determinada região. Essas variáveis influenciam diretamente na velocidade de contágios e na dispersão da pandemia no mundo. Entretanto, pesquisas realizadas pela Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres (https://www.lshtm.ac.uk/) demonstram que cerca de 80% dos contágios da Covid-19 são transmitidos por cerca de apenas 10% dos contaminados. Por trás destes números se escondem  os chamados “superspreaders”, palavra que traduzida para o português significa “superespalhadores”, ou seja, existem certas pessoas e em determinados ambientes que juntos são capazes de transmitirem o vírus numa escala muito superior à média regional ou nacional de uma dada região ou país. O surgimento dos  “superspreaders”  está relacionado à dinâmica de propagação  e de contágio do vírus Sars-Cov-2.

 Um “superspreader” não é uma pessoa, mas sim um conjunto de situações ou eventos sociais, que envolvem muitas pessoas, ambientes específicos e o vírus Sars-Cov-2. A combinação de certos locais, com aglomerações de pessoas e o vírus da covid-19, são os ingredientes necessários e suficientes para o surgimento dos “superspreaders”, ou seja, os ambientes ou eventos super espalhadores do novo coronavirus.



Figura 01 - Transmissão do vírus Sars-Cov-2 em evento super espalhador.

Na história recente da pandemia do novo coronavirus, existem vários registros e confirmações de eventos “superspreaders”. Um dos primeiros casos noticiados e documentados de ambientes superespalhadores ocorreu na cidade de Washington nos EUA, onde 61 membros de um coral se reuniram sem as medidas preventivas contra a covid-19, e um dos integrantes do coral, presente no encontro, estava contaminado pelo novo coronavirus, porém, era assintomático. Após a realização deste evento, 53 pessoas testaram positivas para a covid-19, 3 pessoas foram hospitalizadas e 2 morreram. [1] 

Outro exemplo de evento superespalhador ocorreu em uma igreja em Seul, capital da Coréia do Sul, onde uma mulher, membra da igreja e que apresentava sintomas leves da covid-19, frequentou uma reunião daquela igreja, onde todos os participantes tiraram as máscaras para a realização de uma liturgia eclesiástica, e ao final daquela reunião, segundo dados do próprio governo coreano, 43 fiéis da igreja foram contaminados por apenas essa única pessoa.

Ainda na Coréia do Sul, um homem de 29 anos e contaminado com a covid-19, frequentou cerca de cinco (5) boates em um único final de semana na capital Seul, e após dançar e beber com várias pessoas nas boates por onde passou, provocou um surto de covid-19 contaminando dezenas de pessoas, criando um evento denominado superespalhador. [2]



Figura 02 - O distanciamento social e a diminuição de contágios


Vários outros casos ocorridos também no Brasil podem ser relatados como exemplo de eventos superespalhadores, como os jogadores e a comissão técnica do Flamengo, que se contaminaram em viagem ao Equador durante a realização do torneio de futebol Libertadores da América no segundo semestre de 2020. Outro exemplo de ambiente superespalhador também ocorrido no Brasil, foi a posse do presidente do Supremo Tribunal Federal em setembro de 2020, onde a maioria dos convidados e membros da corte foram contaminados, mesmo seguindo protocolos rígidos de segurança contra a covid-19. Neste caso se destaca a aglomeração de pessoas num ambiente fechado com ar condicionado. A cerimônia durou mais de três (3) horas e as pessoas ficaram confinadas num lugar fechado e sem ventilação natural, e mesmo com distanciamento e o uso de máscaras, houve um grande número de contágios entre os participantes devido ao efeito aerossol do vírus Sars_Cov-2, permitindo o contágio pelo ar e tornando o salão do STF num espaço superespalhador. 

O evento superespalhador mais famoso e que ficou conhecido mundialmente foi a cerimônia na Casa Branca, realizada em setembro de 2020 e que contaminou o presidente e candidato à reeleição dos EUA, Donald Trump. Já neste caso não houve a utilização de máscaras pelos participantes e nem tão pouco foi respeitado o distanciamento social. Mesmo sendo um evento realizado ao ar livre, se transformou assim num superespalhador da covid-19 em virtude das intensas e constantes aglomerações naquele local.

Logo vemos que os chamados “Superspreaders” são eventos sociais capazes de potencializar a transmissão do vírus Sars-Cov-2. Se, por exemplo, numa cidade o índice de transmissão (Ro ou Rt) é alto e igual a 2 (Ro=2), significa que uma pessoa contaminada é capaz de transmitir o vírus para duas (2) outras pessoas. Mas no caso de um superespalhador, ele pode transmitir o vírus para 10, 50 ou 100 pessoas dependendo do contexto e não obedecendo a regra da constante de transmissibilidade Ro.

Qualquer ambiente onde ocorram aglomerações e não se respeitem as regras de distanciamento social e o uso correto de máscaras, pode se transformar em um potencial evento superespalhador. Inclusive ambientes fechados e pouco arejados, mesmo com as prevenções adequadas, podem também se transformar em superespalhadores, como no exemplo da cerimônia de posse no STF em Brasília.

Não existe um ambiente em si mesmo que seja superespalhador, esses ambientes são criados pela dinâmica de transmissão do vírus e também pelo contexto da aglomeração, e que combinados, bastando apenas a presença de um única pessoa positiva para a covid-19, faz então surgir o superespalhador e consequentemente potencializando os contágios.


Figura 03 - A - cadeia de contágios do coronavírus;  B - quebra da cadeia de contágios com o distanciamento social.


As academias de ginástica, colégios e as escolas de natação também podem se transformar em ambientes superespalhadores, desde que os ingredientes citados acima estejam presentes. Estes ambientes são na sua grande maioria locais fechados com ar condicionado, com intensas aglomerações de alunos e funcionários. Ressalta-se ainda a realização, por parte dos praticantes, de uma respiração intensa e ofegante nestes ambientes, facilitando as transmissões virais, levando risco a todos os frequentadores destes espaços. Vale destacar que a transmissão mais importante para a covid-19 se dá essencialmente pelo ar, ou seja, o contágio ocorre através das vias respiratórias, e as transmissões por superfícies ou por contato são quase impossíveis, segundo pesquisas recentes.

Muitos dos protocolos planejados para as academias e escolas (incluímos aqui também as escolas de natação) em sua maioria não são eficazes no cotidiano brasileiro onde constantemente o índice de transmissão é maior do que 1 (Rt>1). Na data de hoje, na postagem deste texto, segundo o Imperial College de Londres, o Rt no Brasil equivale a 1,02.

E mais uma vez, tanto no ambiente escolar quanto nas academias, a educação física está sendo colocada em xeque, não pelo vírus Sars-Cov-2, mas pelo total descaso das autoridades e pelo mercado insaciável do capital, que exclui os trabalhadores e alunos da educação física do direito e acesso universal à vacina, à proteção e à saúde, impondo o desemprego e a fome àqueles que não tem opção em escolher entre a vida ou a morte dentro do contexto da super exploração do trabalho na pandemia.

 

 [1] https://exame.com/ciencia/o-superpoder-de-espalhar-covid-19-por-que-alguns-transmitem-mais-o-virus/

                             [2]  https://www.em.com.br/app/noticia/internacional/2020/05/13/interna_internacional,1146965/governo-investiga-quem-esteve-em-boate-contra-nova-onda-de-covid-19-n.shtml