quarta-feira, 2 de junho de 2021

Esportes e a Covid-19: o caos na pandemia

       



Foto 01 - Estádio Olímpico localizado na Unidade UEG ESEFFEGO no centro de Goiânia: estádio onde serão realizados os jogos da Copa América em pleno auge da pandemia em Goiás.


(Escrito por: Renato Coelho)


Sempre os governos de diferentes países e em diversas épocas utilizaram os esportes como instrumento ideológico e de manipulação da população, desde Getúlio Vargas, passando pelos presidentes do regime militar, FHC, Lula, Dilma e chegando até aos dias atuais com o governo de Jair Bolsonaro. E nestes tempos tenebrosos de pandemia não tem sido diferente. As velhas e demagógicas políticas de controle estão sendo constantemente utilizadas por governos, instituições e também pela grande mídia no sentido de forçar as pessoas a acreditarem que mesmo em um contexto de pandemia, com as curvas ascendentes de mortes e de contágios pelo novo coronavirus no Brasil, cinicamente vaticinam que a vida pode simplesmente seguir nos antigos padrões da normalidade social, ignorando a alta transmissibilidade e letalidade do vírus Sars-Cov-2 e suas mutações não menos perigosas. Goiânia acaba de ser escolhida como sede da Copa América 2021 que será realizada ainda neste mês de junho no Brasil. Os jogos ocorrerão no Estádio Olímpico, onde também está localizada a Unidade universitária ESSEFEGO pertencente à UEG. E segundo os dados do Boletim Integrado Covid-19 de 01 de junho de 2021 (www.datasets.saude.go.gov.br)  a taxa de ocupação de UTI´s no Estado de Goiás  está em 89,77% e a taxa de ocupação na cidade de Goiânia registra 75,98% de ocupação. Sendo que em Goiânia apenas cerca de 20% da população recebeu a  primeira dose da vacina contra a Covid-19. E em Goiás morrem cerca de 2.000 pessoas a  cada mês, em Goiânia são em média 100 mortes por dia causadas pela covid-19 sem controle. O que estamos a assistir é uma tentativa obstinada por parte do Estado, da grande mídia e também dos grandes empresários em impor uma normalidade impossível em tempos de descontrole total da pandemia no Brasil. Podemos denominar este atual contexto de a Ditadura do Falso Normal, onde se naturaliza a morte em massa a fim de permitir uma continuidade da vida dentro de uma descontinuidade em tempos de pandemia. Hospitais em pleno colapso de atendimento, com colocação de contêiners de câmara fria nos pátios para acomodação de corpos, multiplicações de mutações virais mais letais, falta de vacinas, escassez de oxigênio medicinal para o atendimento de pacientes com Covid-19 e campeonatos estaduais, nacionais e internacionais de futebol, basquete e outros esportes ocorrendo normalmente em solo brasileiro. Além de aumentarem os contágios entre os atletas e os seus familiares, a continuidade das práticas esportivas profissionais é capaz de provocar ainda o adoecimento ou a morte de centenas de outros trabalhadores envolvidos direta ou indiretamente com o espetáculo esportivo. Além deste grave e real problema sanitário de contágio dentro do ambiente esportivo, tais eventos no contexto brasileiro de aumento de transmissão, tem também um caráter simbólico ao criar nas pessoas uma falsa sensação de normalidade. Ver jogadores em campo e assistir ao nosso time em jogos oficiais, cria em nós uma falsa normalidade capaz de nos fazer baixar a guarda e relaxarmos com os cuidados e precauções, expondo assim, mais pessoas ao vírus, ao se fazer acreditar erroneamente que a vida já voltou ao normal, porque os nossos times do coração voltaram a jogar os campeonatos nacionais ou estaduais. De forma consciente ou inconsciente, essa ação de assistir ao jogo e torcer, mesmo que pela TV, é capaz de provocar um relaxamento da maioria da população, sob  o discurso falacioso do “novo normal”, e de um normal que nunca existiu, mesmo antes da pandemia. Esse bombardeio constante de propaganda da falsa normalidade atinge a todos e colabora com o extermínio de classe promovido pelo Estado brasileiro ao transformar a curva exponencial da pandemia no Brasil na mais alta e longa do mundo, sob um platô com uma média móvel superior a 2.000 mortes diárias. Os números e a matemática provam que a vida não segue nada  normal.



Foto 02 - Volante Enzo Pérez do Boca Juniors joga improvisado como goleiro: vinte jogadores do time argentino testaram positivo para a Covid-19 e desfalcaram o Boca Juniors no jogo contra o Santa Fé da Colômbia pela Copa Libertadores da América 2021.

O esporte a partir do século XX se transforma em espetáculo midiático e em megaevento de entretenimento de bilhões de espectadores em todo o mundo. O esporte mercadoria se transforma em produto de consumo e é ofertado não mais como exercício físico, promoção de bem estar ou prática de lazer, mas é transformado em objeto de contemplação e de fethiche. O sujeito que antes praticava o esporte e o próprio esporte se transformam em objetos reificados. O ativo praticante e desportista do dia a dia  ou aquele torcedor apaixonado pelo seu time e frequentador dos estádios desaparecem no mundo do esporte espetáculo moderno e passam a dar lugar ao consumidor passivo do entretenimento esportes, um mero sujeito inerte que apenas contempla virtualmente o esporte espetacularizado e globalizado, que se transformou apenas em imagem a ser vendida e consumida. Nessa metamorfose para se enquadrar no processo de fetichização capitalista, o esporte não apenas se transforma em mais uma mercadoria, mas também perde seus significados, seus símbolos, regras e tradições. Nesse processo de mercadorização e de aniquilamento dos sentidos dos esportes, ocorre o empobrecimento e a perda dos seus elementos constitutivos e essenciais ligados a estética, a arte, ao popular e à história humana.

Mas o esporte não é hoje uma mercadoria qualquer, mas sim uma mercadoria singular e que movimenta uma cifra de bilhões de dólares no mundo. E além de produzir uma escala astronômica de lucros aos seus patrocinadores, os esportes possuem também um capital político e ideológico incomparáveis. Um exemplo marcante dos esportes como instrumento ideológico foi demonstrado durante o período da chamada Guerra Fria, quando da polarização do mundo entre a antiga União Soviética (URSS) e os EUA, que dividiu o planeta entre países capitalistas  apoiados e liderados pelos EUA e os países do bloco comunista, ligados à antiga União Soviética. Durante este período as olímpiadas se transformaram em palco de disputas hegemônicas entre atletas do mundo capitalista versus atletas do mundo comunista. Nestas disputas, no entanto, o “fair play” nunca existiu, pois eram constantes e comuns os escândalos com dopping envolvendo atletas de ambos os lados e que utilizavam esteroides anabolizantes e outros fármacos para alcançarem o pódio e as cobiçadas medalhas olímpicas, e com isso a hegemonia nos esportes mundiais e que servia como a mais poderosa e eficaz propaganda estatal.

Foto 03 - Filme Rock mostra o contexto da Guerra Fria nos esportes: Rocky Balboa (USA) x Ivan Drago (URSS)

Nos países da América Latina não foi diferente o uso dos esportes por governos e regimes ditatoriais, sempre houve ações estatais que transformaram os esportes em bandeira de propaganda de representantes políticos ou de partidos. Na Argentina de Perón ao Brasil de Vargas, sempre se soube do grande poder de fascínio, de êxtase e de admiração provocados pelos esportes, em especial do futebol, sobre a maior parte da população.

Durante o período em que vigoraram as ditaduras militares na América do Sul, houveram casos emblemáticos e históricos onde o Estado se utilizou do esporte para promoção e propaganda de seus ideais e valores, sob o falso manto do triunfalismo, da eficiência, do mérito e da sobrepujança, que são as características do esporte. E mais ainda, aqueles que conseguiam as qualidades de serem os mais rápidos, mais velozes, que iam mais altos e mais longe estavam então à serviço da propaganda do Estado.

A ditadura militar do presidente Videla na Argentina utilizou a Copa do Mundo de 1978 como propaganda do regime ditatorial para o mundo, tentando esconder as mazelas sociais do país, a pobreza e a violência estatal contra a os opositores da ditadura. A Argentina que era sede da Copa do Mundo FIFA de Futebol em 1978 aumenta a violência e a repressão aos opositores no país durante o período da Copa. Enquanto a bola rolava nos gramados argentinos, milhares de pessoas passavam fome nos subúrbios das grandes cidades devido à miséria no país ou eram presas, torturadas e mortas pela polícia argentina.  Mas a propaganda de Videla tentava passar ao mundo, a visão de uma outra Argentina, bem diferente daquela que se via nas ruas de Buenos Aires ou nos porões da polícia de todo o país. A propaganda estatal era a de uma Argentina do “país do futebol” e da seleção de Passarela campeã do mundo em 1978. Mas, para se chegar à final da copa e ao título, o governo argentino promoveu várias intervenções junto à Fifa e também na escancarada manipulação de jogos que beneficiaram o time anfitrião. Um jogo bastante emblemático foi entre Argentina e Peru, onde a seleção Argentina necessitava vencer a equipe adversária peruana com um placar de 4 gols de diferença para avançar à próxima fase, e ainda tirar a seleção do Brasil daquela Copa. Com visita do general Videla ao vestiário da seleção peruana antes e após o jogo contra a Argentina, o placar final de 6 X 0 a favor da Argentina, provocou a desclassificação do Brasil, e  fez a seleção argentina avançar à final e disputar o título contra a Holanda, sagrando-se campeã do mundo.

Foto 04 - Argentina campeã mundial na Copa do Mundo de 1978


No Chile, da mesma forma o ditador Augusto Pinochet, passa a promover intervenções e apoiar o Colo Colo, o time mais famoso e popular da época e que formava a base da seleção chilena. Com o objetivo também de tentar desviar a atenção da população chilena e do mundo das barbáries, atrocidades e genocídios promovidos pela ditadura chilena aos seus opositores, o governo do ditador Augusto Pinochet se utiliza do futebol como instrumento de controle e para mascarar a realidade. O Estádio Nacional do Chile em Santiago se tornou na época em um dos maiores símbolos da cruel ditadura chilena. Este famoso e importante estádio de futebol serviu de local de prisão e tortura para milhares de simpatizantes e apoiadores do governo deposto de Salvador Allende. Milhares de chilenos foram assassinados pela ditadura de Pinochet  dentro do Estádio Nacional do Chile. Um jogo que não aconteceu, mas que entrou para a história do futebol foi nas eliminatórias para a copa do mundo de 1974 na Alemanha, onde a seleção chilena deveria enfrentar a seleção da antiga União Soviética em Santiago, mas o time russo se recusou a entrar no campo do Estádio Nacional  em protesto contra a ditadura de Pinochet. Então a seleção do Chile vence o jogo por W.O e se classifica, com o estádio lotado com mais de 20 mil torcedores chilenos que não assistiram a jogo nenhum.


Foto 05 - Estádio Nacional do Chile 


No Brasil podemos citar também vários momentos sobre a utilização dos eventos esportivos como instrumento ideológico e de manipulação, que vão desde os governos de Getúlio Vargas, passando pelos militares pós 1964 e indo até os governos atuais.

Um dos episódios mais emblemáticos e marcantes da história do futebol brasileiro, e sobre a  ideologização do maior esporte nacional, ocorreu em 1970 na disputa da Copa do Mundo do México, onde a seleção comandada por Pelé & Cia, considerada a maior seleção de futebol de todos os tempos, se transformou na maior e mais poderosa bandeira de propaganda política da ditadura militar brasileira. Enquanto milhares de brasileiros, que se opunham à ditadura, eram torturados e mortos nos porões das delegacias policiais, o governo exaltava e patrocinava a chamada seleção canarinho que se consagrou tricampeã no México em 1970. A propaganda estatal sobre a seleção de Pelé não somente tentava passar uma boa imagem do Brasil no exterior, assim como também conseguia desviar o foco da população brasileira das questões importantes e ligadas à fome, à miséria , às injustiças sociais e sobretudo com relação à violência e repressão institucionalizada do Estado contra os próprios brasileiros. O futebol ajudava a vender a propaganda do “milagre brasileiro” referente ao crescimento artificial da economia e também promovia a falsa imagem criada pelos militares do regime caracterizado pelo slogan “Brasil Potência” ou “Brasil: o país do futuro”.

Foto  06 - General Emílio G. Médici recepciona seleção tricampeã do mundo em 1970.


Nos governos do PT, de Lula e Dilma, (2002-2016) mais uma vez se gastou muita energia e volumosas quantias em dinheiro para transformar o país na sede dos dois  maiores megaeventos  esportivos do planeta, a Copa do Mundo Fifa 2014 e Olimpíadas Rio 2016. A grande êxtase e o entusiasmo em sediar os megaeventos mais importantes do esporte moderno contribuíram também para desviar o foco e a atenção da população brasileira da sua realidade, camuflando os problemas sociais e servindo de capital politico para o governo. Porém, os gastos astronômicos com a construção das chamadas Arenas de futebol com padrão Fifa, que ultrapassaram os 30 bilhões de reais (somente o estádio Mané Garrincha em Brasília custou cerca de 1,5 bilhão de reais e com provas de superfaturamento). Os gastos com as  Olímpiadas do Rio em 2016 ultrapassaram os gastos com a copa do mundo de 2014, alcançando a cifra de 40 bilhões de reais. Os altos gastos com os megaeventos, sob o falso discurso de “Legado Olímpico”, e em contrapartida  a falta de investimentos em infra-estrutura ligadas à saúde, educação, saneamento e geração de empregos, e entre outros fatores importantes, provocaram protestos em todo o país, onde a população exigia com bloqueios de ruas e rodovias maiores investimentos em saúde e educação e ainda a não realização destes mega eventos esportivos. As consequências foram catastróficas com o endividamento público, a inexistência de nenhum legado da copa ou das olimpíadas e ainda o fracasso político da realização dos mega eventos ajudaram a derrubar a popularidade do governo do partido dos trabalhadores (PT), e dentre outros fatores também importantes, a crise gerada potencializou o processo de impeachment da presidenta Dilma Roussef (PT) em 2016.

Foto 07 - Alunos e professores da UEG cercam o ônibus da seleção brasileira de futebol em frente ao Mercury Hotel no Setor Oeste em Goiânia durante amistosos de preparação para a Copa das Confederações no ano de 2013. (Movimento Mobiliza UEG).


Hoje, durante a pandemia do novo coronavirus e o governo de Jair Bolsonaro, também podemos observar a velha estratégia de se utilizar o esporte como propaganda na criação de uma falsa normalidade, com as mesmas estratégias e mecanismos que adotados por governos anteriores, desde Vargas, passando pelos governos da ditadura militar pós 1964 e pelos governos do PT a partir da década de 2000.

A partir de agosto de 2020, ainda quando se observava grande aumento nas curvas de contágios e de mortes pelo novo coronavirus em todo o país, houve o reinício do campeonato brasileiro de futebol e também dos campeonatos estaduais. Mesmo sem público nos estádios, foram criados vários protocolos sanitários para evitar o contágio por atletas e pelas comissões técnicas. Mas o que assistimos foram vários surtos da covid-19 entre times de todas as regiões do Brasil, inclusive do Goiás E.C e também o Atlético Goianiense, ambos da capital goiana. E no dia 22 de setembro de 2020 o time com a maior torcida do Brasil, o Clube de Regatas do Flamengo, obteve 27 pessoas contaminadas com a covid-19, entre atletas, comissão técnica e cartolas, todos contaminados em viagem à cidade de Guayaquil no Equador pela disputa da copa Libertadores da América. O time que mais pressionou as autoridades para o reinício dos jogos durante a pandemia, teve praticamente quase todo o time e o próprio técnico contaminados pelo vírus Sars-Cov-2, provando assim que não existe protocolo seguro quando a transmissão do vírus é acelerada e ascendente (Rt>1).

Como se não bastasse, existe hoje no Brasil uma forte pressão de clubes sobre a CBF no intuito de liberar a participação de torcedores nos estádios durante a pandemia. Esse movimento também é encabeçado pelo time do Flamengo, que exige a abertura dos portões e das bilheterias aos torcedores. O ex-prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivela, na época de olho nas eleições municipais em 2020, cedeu à pressão e aprovou a reabertura do Maracanã aos torcedores. Mas com a revolta de outros dirigentes de clubes importantes, como Botafogo e Fluminense,que não concordam com a reabertura apenas do Maracanã, a prefeitura carioca e o Flamengo voltaram atrás na tentativa de abrir os portões para os torcedores em plena pandemia.

Foto 08 - Flamengo Campeão Brasileiro em pleno crescimento da segunda onda de Covid-19 no Brasil.


O que está de fato por detrás da volta do futebol e também das torcidas  nos estádios em pleno aumento de casos e de contágios na pandemia? Hoje o país contabiliza mais de 430 mil mortos pela covid-19 e várias cidades, como Goiânia, experimentam atualmente um aumento de casos e de mortes na pandemia no início de uma possível terceira onda. Essa chamada política de extermínio de classe no Brasil, representa a tentativa desesperada e pragmática dos governos do país (federal, estaduais e municipais) em criar uma falsa normalidade (alguns denominam de “novo normal”), onde o esporte e principalmente o futebol pode ser capaz de criar no imaginário das pessoas a falsa sensação de que a vida voltou a ser como antes, uma ilusória percepção de que podemos sair de casa e trabalhar como se a pandemia já estivesse terminado.  Mas, ao contrário, a pandemia está em sua fase mais letal e veloz, ceifando milhares de vidas a cada instante. Há uma estimativa do próprio Ministério da Saúde que prevê aumento de mortes diárias no Brasil para os meses de junho e julho de 2021 (pico da terceira onda), e os campeonatos estaduais, Libertadores e o Brasileirão continuam com os seus jogos ainda em andamento. Agora acrescentamos aqui a Copa América a iniciar ainda em Junho deste ano. O governador de Goiás exigiu que as confederações de futebol utilizem todos os protocolos de prevenção contra a covid-19, e fala-se na construção de "Bolha" anti-covid-19 para jogadores e comissão técnica. Entretanto, sabemos que não existe protocolo seguro quando a pandemia está fora de controle (Rt>1), como é o caso de Goiânia, nesta situação o protocolo seguro é o isolamento social e lockdown. Vimos também que as chamadas "bolhas" de isolamento podem ser furadas, como ocorreu em 2020 na NBA nos EUA, ou mais recentemente em Saquarema, cidade do litoral fluminense, onde se localiza o Centro de Treinamento da Confederação Brasileira de Voleibol (CBV), em que o próprio o técnico da seleção brasileira de voleibol contraiu o vírus e precisou ser intubado.

Vê-se assim uma tentativa desesperada de  recuperar as perdas da economia, em um país onde o governo se utiliza de um discurso negacionista, se isenta na criação de políticas públicas de mitigação dos contágios, faz então multiplicar as tentativas e as propagandas de um falso normal, onde os esportes servem de instrumento de mascaramento do verdadeiro extermínio de classe no Brasil durante a pandemia. As pessoas são induzidas e convidadas a consumir e se divertir mesmo com o vírus letal e sem controle nas ruas. E o esporte é mais uma vez este mecanismo importante de criação da normalidade impossível, tal qual ou muito pior, do que se assistimos durante os períodos da chamada Guerra Fria, nas ditaduras da América Latina ou ainda com os já citados megaeventos dos governos do PT no Brasil.

A grande verdade, todos já sabem, para se controlar uma pandemia em um país pobre como o Brasil requer grandes investimentos que garantam a manutenção financeira das famílias de todos os trabalhadores, dos desempregados e dos mais pobres, também a criação de políticas públicas coordenadas na área da saúde, capazes de promover a testagem em massa, o rastreamento em massa, o isolamento em massa e o tratamento de todos os contaminados do país, sejam os casos mais graves ou assintomáticos. Ainda um programa de vacinação em massa que seja eficiente e rápido a fim de frear as mortes pela Covid-19.  Porém, nenhuma destas ações se praticam no Brasil, daí o caminho mais fácil em colocar o trabalhador dentro dos estádios ou em frente da TV para assistir o seu time em plena pandemia. O atalho está sendo feito em utilizar os esportes como anestésico para uma população em pânico e à beira de uma revolta por causa dos prejuízos e do aumento da miséria provocado pela pandemia. Essa é a velha estratégia dos governos e do Estado para se criar o falso normal, porém, a fome não é falsa e não se pode esconder os cadáveres de milhares de mortos. E o culpado, obviamente, não é o vírus.