O Trabalho faz mal à
saúde, para tomar emprestado o título de um livro. De fato, trabalho é
extermínio em massa ou genocídio. Direta ou indiretamente, o trabalho vai matar
a maioria das pessoas que leem estas palavras. Entre 14 mil e 25 mil
trabalhadores são mortos anualmente, neste país, no trabalho. Mais de dois milhões
ficam inválidos. Vinte a 25 milhões se ferem todo ano. E essas cifras se
baseiam numa cifra bastante conservadora do que constitui um acidente de
trabalho. Portanto, ela não contabiliza o meio milhão de casos de doenças
ocupacionais por ano. (BOB BLACK, 2021)
Foto
01 – A destruição da Floresta Amazônica irá provocar o surgimento de novos
vírus letais.
Nestas
primeiras semanas de agosto têm-se observado no Brasil uma diminuição relativa
no número de óbitos e de contágios nas médias móveis, segundo os dados
fornecidos pelo Boletim Observatório Covid-19 – semana epidemiológica 29 e 30
(FIOCRUZ, 2021). Porém, apesar da queda momentânea, têm-se verificado que as
médias móveis de mortes e de contágios ainda permanecem em um patamar
altíssimo, com cerca de 1.000 mortes diárias, constatando-se também uma alta na
circulação do vírus em todas as regiões do país. O significativo decréscimo no
número de contágios e de óbitos denotam dois fenômenos distintos: 1 - o
alto número de óbitos e de contágios ocorridos entre os meses abril e maio de
2021, fez provocar a formação dos chamados “clusters” de proteção, ou seja,
barreiras temporárias formadas por um grande número de pessoas imunizadas pelo
contágio com o vírus (formação temporária de anticorpos); 2 – o Programa
Nacional de Imunização (PNI) que em agosto atingiu a marca de mais de 100
milhões de pessoas vacinadas com a 1º dose da vacina (apenas cerca de 20% da
população brasileira foi imunizada com as duas doses até as duas primeiras
semanas de agosto).
Ainda
segundo os dados da Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ, 2021), o índice de
isolamento domiciliar e de mobilidade humana já atingiram neste mês de agosto
valores idênticos ao período pré-pandemia (fevereiro de 2020), o que tende a
aumentar mais a exposição da população ao vírus, com a retomada plena das
atividades laborais e da abertura das escolas. Outro importante fator neste
atual momento da pandemia no Brasil é o aumento da transmissão da variante
Delta em várias regiões do país, e que fatalmente, somado com a lentidão no
processo vacinal, irá provocar a chamada terceira onda de casos e de mortes por
covid-19, onde ocorre uma explosão de contágios e óbitos com colapso nos sistemas
de saúde.
O elevado patamar de risco
de transmissão do vírus Sars-Cov-2 pode ser agravado pela maior
transmissibilidade da variante Delta, em paralelo ao lento avanço da imunização
entre grupos mais jovens e mais expostos, combinado com maior circulação de
pessoas pela retomada das atividades de trabalho e educação. Nesse sentido, é
importante refutar a ideia de que a vacinação protege integralmente as pessoas
de serem infectadas e transmitir o vírus, o que pode se tornar um risco
adicional com a nova variante de preocupação Delta.
A redução do impacto da
pandemia de modo mais duradouro somente será alcançada com a intensificação da
campanha de vacinação, a adequação das práticas de vigilância em saúde, reforço
da atenção primária à saúde, além do amplo emprego de medidas de proteção
individual, como as máscaras e distanciamento social. (FIOCRUZ, 2021).
Segundo
pesquisas realizadas, a variante Delta, também chamada de B1.617.2 é uma
mutação do coronavírus clássico de Wuhan, porém, com características genéticas
e com uma dinâmica bastante distinta do vírus original. Segundo Novo (2021), a
variante Delta possui cerca de 1260 vezes mais carga viral do que o vírus
Sars-Cov-2 clássico de Wuhan, e ter uma carga viral tão alta assim, significa
maior probabilidade de gerar infecção e maior transmissibilidade.
Anteriormente, com as antigas mutações, uma pessoa contaminada com covid-19 era
capaz de contaminar cerca de 2 ou três pessoas. Já com a nova variante Delta,
uma única pessoa infectada pode chegar a transmitir o vírus para 5 ou 8 novas
pessoas. Isso significa uma drástica mudança no chamado índice de transmissão
do vírus (Rt), e que a partir de agora, passa a aumentar de forma assustadora.
Além disso, a carga viral produzida pela variante Delta é tão alta, que muda
também o conceito dos chamados ambientes super espalhadores (“super spreaders”),
ou seja, o surgimento de ambientes super espalhadores passa a aumentar, se
tornando cada vez mais comuns, mas com um agravante ainda pior, tais ambientes
de super espalhamento do vírus podem ocorrer também ao ar livre, ou seja, devido
à alta potência da carga viral transmitida a uma pessoa infectada, atividades
ou encontros ao ar livre sem distanciamento e sem uso de máscaras podem
potencializar os contágios. A replicação
viral dentro do organismo humano com a variante Delta passa a ser explosiva, ou
seja, a alta carga viral é tão intensa e rápida que o indivíduo contaminado
passa a transmitir o vírus para outras pessoas a partir do primeiro dia da sua
contaminação, diferentemente das outras mutações virais do coronavírus que
dentro do corpo humano demoravam vários dias para a inicialização dos contágios
a outras pessoas. A alta transmissão viral com a variante Delta se dá no início
da infecção, fazendo surgir assim uma transmissão rápida, silenciosa e
prolongada. (NOVO, 2021).
Gráfico
01 – Comparação entre a carga viral da variante Delta e a variante Clássica de
Wuhan (Fonte: Nius Diário – Madri - Espanha 2021)
Essa
nova variante Delta demonstra que de fato não existe protocolo de biossegurança
seguro o suficiente para conter os contágios e transmissões em ambientes de
aglomerações como escolas, igrejas, academias, cinemas, teatros e coloca em xeque
também os protocolos atuais sobre encontros e aglomerações em locais abertos ou
ao ar livre. As aulas de Educação Física em quadras ou espaços abertos estão
sendo também postas em xeque pela nova variante Delta. Uma quadra ou ginásio de
esportes pode muito bem se transformar num ambiente super espalhador de
covid-19. Assistimos recentemente que as denominadas “bolhas de proteção”
contra a covid-19 nos esportes não funcionaram efetivamente. O primeiro exemplo
foi a NBA, no bilionário campeonato de basquete masculino dos EUA, onde as
instalações da Disneylândia foram utilizadas para criação da “bolha do basquete”,
mas que foram “furadas” várias vezes por entregadores de pizzas e também por
atletas. A Bolha construída e instalada em Saquarema, no litoral fluminense,
pela Confederação Brasileira de Volei (CBV) não conseguiu evitar o contágio da
comissão técnica, onde próprio treinador da seleção olímpica, Renan Dal Zoto,
precisou ser intubado por complicações advindas da Covid-19. Os casos de
covid-19 na Copa América 2021, onde o campus ESEFFEGO da UEG serviu de sede
para a realização de vários jogos, não foram divulgados oficialmente pela
Comenbol, a organizadora do evento. E por fim, a “bolha olímpica” de Tóquio computou
mais de 340 pessoas contaminadas pela covid-19, entre atletas, comissão
técnica, jornalistas e colaboradores locais.
Vê-se
assim ser insana e irresponsável a proposta de abertura de escolas e
universidades no Brasil em um período de plena e rápida expansão da variante
Delta. As aulas presenciais irão aumentar os contágios, surtos e mortes por
covid-19 no contexto atual do Brasil, e devido a isso as pressões políticas e
econômicas devem ser rechaçadas e combatidas com argumentos científicos e por
ações de resistência por familiares, alunos, professores e toda a comunidade
escolar envolvida neste atual contexto da pandemia.
Foto 02 – Colégio privado em região nobre de Goiânia tem surto de covid-19 e suspende aulas.
Pesquisas
realizadas pela USP (OLIVEIRA, 2021) mostram a reprovação de protocolos de
biossegurança de escolas em cinco estados brasileiros, onde as aulas
presenciais já foram iniciadas (Amazonas, Ceará, São Paulo, Rio Grande do Sul e
Mato Grosso). Segundo a pesquisa os protocolos necessitam de revisão e colocam
em risco toda a população e não somente a comunidade escolar.
Uso de máscaras, álcool em gel e distanciamento físico são medidas
básicas para evitar a transmissão do coronavírus, mas somente elas não garantem
a segurança na reabertura das escolas. Um levantamento com dados públicos de cinco estados sobre medidas para o retorno às aulas presenciais aponta falhas nos protocolos analisados, considerando o que
a ciência já apontou como seguro para impedir a transmissão de coronavírus
(como o uso de máscaras e o escalonamento no transporte até a testagem).
O resultado sinaliza risco de
aumento de transmissão na reabertura das escolas, caso os
protocolos não sejam revistos. (OLIVEIRA, 2021).
Gráfico
01 – Reprovação dos protocolos de biossegurança de escolas públicas no Brasil –
as notas variam numa escala de 0 a 100 pontos. (Fonte: USP/G1.COM)
Projeto
S: o cinturão de imunidade na cidade de Serrana-SP e o retorno seguro às aulas presencias
O resultado mais
importante foi entender que podemos controlar a pandemia mesmo sem vacinar toda
a população. Quando atingida a cobertura de 70% a 75% a queda na incidência foi
percebida até no grupo que ainda não tinha completado o esquema vacinal.
(BUTANTAN, 2021)
Ainda,
segundo as pesquisas realizadas pelo Butantan, observou-se na comparação da
incidência da doença em Serrana com as cidades vizinhas, que mesmo tendo cerca
de 10 mil moradores que moram em Serrana, mas que trabalham diariamente na cidade
vizinha de Ribeirão Preto, as taxas de incidência se mantiveram baixas em
virtude da vacinação em massa, enquanto Ribeirão Preto e as demais cidades da
região apresentavam altos índices de casos e de óbitos durante o período
analisado. Ou seja, provou-se que a vacinação em Serrana criou uma barreira de
proteção coletiva, chamado de “cinturão imunológico”, que foi capaz de reduzir
consideravelmente a transmissão do vírus dentro da cidade. Pesquisas similares
a esta com vacinação em massa estão atualmente sendo realizadas pela Fiocruz na
cidade de Botucatu-SP e também na favela da Maré na cidade do Rio de Janeiro
com a utilização da vacina AstraZeneca.
Gráfico 02 – Queda acentuada nas taxas de contágios e de hospitalizações em Serrana após a vacinação em massa da população com a vacina coronavac.
A
importância desta pesquisa é a demonstração da chamada imunidade coletiva
através da vacinação em massa. No caso analisado, foi necessária uma cobertura vacinal
em torno de 75% para atingir o chamado “cinturão imunológico” ou imunidade
coletiva. Portanto, é falsa a tese de imunidade coletiva através de contágios
pela covid-19 por grande parte da população, tal qual defende, de forma
irresponsável, o Governo Federal. A chamada imunidade coletiva para um vírus
altamente letal e que sofre contínuas mutações, como é o caso do novo
coronavírus, somente pode ser alcançada através da vacinação em massa e não pela
simples exposição da população ao vírus.
É
importante ressaltar que o percentual para se atingir a imunidade coletiva, e
que no caso de Serrana foi de 75% e com uso da vacina Coronavac, depende de
vários fatores, dentre eles a eficácia da vacina e também do tipo de mutante do
vírus circulante na população. No caso da variante Delta, como a sua carga
viral produzida no corpo do indivíduo contaminado é 1260 vezes maior, e ela
possui ainda uma escala de transmissibilidade muito alta (1 pessoa infectada é
capaz de contaminar entre 5 a 8 novas pessoas), isto então significa que para o
caso atual da pandemia no Brasil e com a multiplicação da variante Delta, tal
percentual deverá ser muito maior, podendo atingir até valores superiores a 90%
da população a ser vacinada a fim de alcançara
a imunidade coletiva, a depender também do tipo de vacina. Ou seja,
quanto mais lenta a vacinação, maiores as chances de surgimento de mutações
virais e criará também a necessidade de se vacinar maior parte da população em
menor tempo possível, para se alcançar a imunidade coletiva.
Essa
análise é fundamental para a compreensão sobre o retorno das aulas presencias
nas escolas e nas universidades brasileiras. Analisando os dados, vê-se que o
momento seguro para o retorno das aulas presencias requer a vacinação de no
mínimo 75% da população adulta, até que se atinja a imunidade coletiva, que é
quando a circulação do vírus em escala nacional sofrerá uma queda bastante
acentuada. E esse percentual tende a aumentar com a lentidão programa nacional
de vacinação e com o avanço exponencial da variante Delta em todo o território nacional. O retorno das atividades presenciais em
escolas e universidades após alcançada a imunidade coletiva, deve ainda ser acompanhado
por testagem em massa, rastreamento de casos positivos, distanciamento social,
uso de máscaras, escalonamento de turmas e horários, mudanças arquitetônicas
nas instalações educacionais para melhor ventilação do ar, e ainda a modernização
e distribuição equitativa de equipamentos computacionais e de internet para
alunos, professores e funcionários das instituições educacionais para
continuidade de ensino remoto de maior qualidade para implantação do chamado
sistema híbrido (presencial + virtual). Vale a pena lembrar ainda que até o
presente momento cerca de 20% da população total foi imunizada, ou seja,
recebeu a segunda dose da vacina. O que torna distante o alcance da imunidade coletiva
nacional e torna irreversível o surgimento de uma terceira onda a ser provocada
pela variante de preocupação Delta.
Bibliografia
BLACK,
BOB. Groucho Marxismo. São Paulo: Editora Veneta, 2021.
BUTANTAN.
Projeto S: imunização em Serrana faz casos de covid-19 despencarem 80% e
mortes, 95%. Disponível em: < https://butantan.gov.br/noticias/projeto-s-imunizacao-em-serrana-faz-casos-de-covid-19-despencarem-80-e-mortes-95>. Acesso
em: 10/08/2021.
FIOCRUZ.
Boletim Observatório Covid-19 – semana epidemiológica 29 e 30, de 18 a 31 de
julho de 2021.
NOVO,
I. F. Delta genera más supercontagios por la
infección "silenciosa" y el crecimiento "explosivo" de la
carga viral. Madrid: Nius Diario. Disponível em: <https://www.niusdiario.es/ciencia-y-tecnologia/ciencia/>
Acesso em: 10/08/2021.
OLIVEIRA,
E. Estados Apresentam Falhas nos Protocolos Para a Volta às Aulas, Aponta
Pesquisa. G1 Educação. Disponível em: < https://g1.globo.com/educacao/volta-as-aulas/noticia/2021/06/22/>. Acesso
em: 10/08/2021