ESTRATÉGIAS PEDAGÓGICAS NO ENSINO DE
NATAÇÃO PARA
CRIANÇAS COM AUTISMO: VIGOTSKI E AS
RELAÇÕES LÚDICAS[1]
Renato Coelho[1]
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Resumo
Este trabalho constitui-se em um relato
de experiência sobre as vivências em atividades de natação infantil realizadas
dentro do Projeto de Extensão Laboratório de Esporte, Jogos e Brincadeiras -
LABBRINC, da Universidade Estadual de Goiás, no Campus Goiânia ESEFFEGO,
durante os anos de 2022 e 2023. Através de intervenções pedagógicas
sistematizadas e com conteúdos lúdicos, foram planejadas e executadas aulas em
práticas corporais aquáticas, com turmas inclusivas, cujo público era formado
por crianças entre 05 e 12 anos de idade, e composto também por crianças com
autismo. Nesta ação extensionista, ainda em andamento, buscou-se superar e
transcender o tradicional modelo médico, instrumental e tecnicista, no trato
com alunos autistas, justificando a construção de uma abordagem educacional
para uma plena intervenção pedagógica, no que tange ao ensino inclusivo de
práticas corporais aquáticas com crianças autistas e pautado na Teoria
Histórico Cultural de Vigotski. As atividades lúdicas em ambiente aquático,
tiveram como objetivos, além de ensinar os fundamentos da natação infantil para
as crianças, também promover a inclusão de alunos com autismo nas práticas
corporais aquáticas e auxiliar na formação acadêmica de alunos de graduação dos
cursos de Educação Física e de Fisioterapia da Universidade Estadual de Goiás.
As aulas foram realizadas no Parque Aquático da Unidade ESEFFEGO UEG em
Goiânia, com aulas semanais, tendo o público participante crianças de 05 a 12
anos. As aulas foram planejadas e ministradas por monitores e bolsistas dos
cursos de Educação Física e de Fisioterapia da UEG e supervisionadas pelo
coordenador do projeto de extensão. Verificamos que, as aulas de natação
infantil, dentro de um contexto lúdico, com estratégias vinculadas a conteúdos
de jogos e brincadeiras, e ainda com a criação de uma ambiente coletivo de
interação e de cooperação entre as crianças, pautados na Teoria Histórico
Cultural de Vigotski, criaram instrumentos importantes para o desenvolvimento
da criança com e sem autismo.
Palavras-chave
– Educação; Natação Infantil; Autismo; Vigotski.
INTRODUÇÃO
Durante o período de matrículas para as aulas
presenciais do projeto de extensão LABBRINC, no primeiro semestre do ano de
2022, após as restrições sociais e as medidas sanitárias de controle da
pandemia de Covid-19, vários alunos se matricularam nas aulas de jogos e
brincadeiras tradicionais e também nas aulas de natação infantil. Entre os alunos matriculados, havia também vários alunos
deficientes, entre eles alunos autistas. Os pais se prontificaram, já no
período de matrícula, em relatar o diagnóstico das crianças com autismo e
sempre procuraram manter um diálogo contínuo e aberto com os professores e
coordenadores do projeto, o que sempre facilitava na organização de estratégias
e no planejamento das ações.
O conceito de autismo é bastante complexo, pois deve
ser levado em conta que as características identificadas nem sempre estão
presentes em todos os indivíduos. (OLIVEIRA, 2011,p.16)
No entanto, e numa definição geral, pode-se dizer que
esta é uma perturbação do desenvolvimento essencialmente caracterizada por
grandes dificuldades na comunicação e na função social. [...] O autismo é uma
perturbação do desenvolvimento que afeta múltiplos aspectos da forma como a
criança vê o mundo e aprende a partir das suas próprias experiências. (SIEGEL,
2008, p. 21).
A palavra autismo possui origem grega “autos”, cujo
significado é “em si mesmo”, e que designa uma condição ou estado de uma pessoa
que possui atitude de permanente concentração em si próprio. (OLIVEIRA, 2011,
p. 17)
As crianças com autismo, de um modo geral, apresentam
um comportamento diferenciado com relação ao brincar, principalmente em
brincadeiras de faz de conta, devido não somente às dificuldades de interação
social ou aos seus interesses restritos, mas também a certas especificidades
relacionadas aos processos ligados à imaginação.
Muitas dessas crianças
têm uma relação pouco comum com os brinquedos: algumas parecem não se
interessar por eles enquanto outras brincam de maneira não convencional (como
cheirar ou passar muito tempo manipulandoos). Frequentemente há uma preferência
por algum brinquedo em especial e, diante de outros materiais lúdicos, o
interesse é passageiro ou inexistente. (CHICON et al., 2018, p.582)
Sabemos que,
apesar de todas as limitações em relação ao processos imaginativos da criança
autista, o brincar é capaz de promover o desenvolvimento de suas funções
psicológicas superiores, inclusive da própria imaginação, fazendo com que a
criança autista desenvolva capacidades importantes através da ação lúdica, como
autocontrole, concentração, criatividade, memória, linguagem e a apropriação de
vários códigos sociais e regras de comportamento, que estão explícitos ou
implícitos na ação do brincar.
Nossas análises
indicam que a criança com autismo também pode se envolver com brincadeiras de
faz de conta, desde que lhe sejam ofertadas condições para isso: quanto mais
estimuladas em sua experiência lúdica, na exploração dos mais variados
brinquedos, na manifestação das diferentes linguagens, na convivência com a
diversidade, na exploração de diferentes espaços e modos de interação, mais
significativas serão as possibilidades de essa criança sentir, pensar, agir
no/com o meio social onde se encontra e brincar. (CHICON et al., 2018, p.590)
Assim sendo,
através da construção de estratégias pedagógicas e intervenções educacionais
eficazes, pode-se criar um verdadeiro desenvolvimento dos alunos autistas
dentro de um ambiente lúdico nas aulas, desde que as atividades pedagógicas
sejam planejadas e com conteúdos
significativos para as crianças. E, dentro das atividades do projeto
extensionista LABBRINC, os alunos com autismo participam das aulas juntamente
com todas as outras crianças sem autismo, de forma a tornar o ambiente lúdico,
também inclusivo, permitindo assim interações variadas e colaborações
importantes entre todas as crianças, e também entre estas crianças e os
professores.
Portanto, no processo
de ensino e aprendizagem, não basta o professor organizar os espaços
disponibilizando materiais e objetos e observar as crianças; é necessário
definir estratégias de abordagem corporal e de intervenções pedagógicas, para
que elas possam criar e recriar as brincadeiras, estabelecer novas interações,
combinar movimentos e objetos, descobrir novas formas de ação, alimentando,
dessa maneira, a experiência corporal (socioafetiva, cognitiva e psicomotora).
A brincadeira torna-se, então, uma possibilidade de desenvolvimento da criança
com autismo a partir do investimento dos adultos em seu envolvimento nessa
prática social específica da infância. (CHICON et al., 2018, p.590).
O espaço das
atividades das práticas corporais, no projeto extensionista LABBRINC, foi
planejado e construído repleto de
elementos lúdicos como bolas coloridas, bambolês, brinquedos, boias infláveis
em formato de golfinhos, bolas de gude e espaguetes coloridos. A piscina para
as aulas de iniciação à natação, possui baixa profundidade (0,70 metros), com
25 metros de extensão por 12 metros de largura, com escadas e rampas que
facilitam o acesso, sendo a temperatura da água variando em torno de 30º
C. Há também o acompanhamento e a
supervisão contínua dos professores e monitores, através de ações dialógicas,
democráticas e participativas, com a execução do planejamento sistematizado das
aulas. No planejamento das atividades, os conteúdos estão sempre relacionados
aos elementos lúdicos em meio aquático, de forma a inserir os fundamentos da
natação como flutuação, respiração, propulsão, inversão e palmateio, dentro do
contexto de jogos e de brincadeiras aquáticas. O referencial teórico, que
embasou a construção de todos os planos de aula, é a Teoria Histórico Cultural
de Vigotski, que conceitua a criança como ser biopsicossocial, sujeito de
direitos e produtor de cultura. Além disso, Vigotski enfatiza e valoriza a ação
do brincar como instrumento importante para o desenvolvimento das funções
psicológicas superiores das crianças e ainda nos fornece o conceito de Zona de
Desenvolvimento Iminente (ZDI), como importante componente e instrumento para
as atividades pedagógicas com crianças com/sem deficiência. A
sistematização e o planejamento das
aulas de práticas corporais em natação foram construídas com base na teoria
histórico cultural de Vigotski, que concebe a criança com ser biopsicossocial,
valorizando as ações e atividades colaborativas e socioafetivas entre as
crianças e seus pares e também entre as crianças e os seus professores.
Vigotski sempre defendeu a tese, onde somente é possível compreender o
comportamento humano em sua totalidade, quando se considera o desenvolvimento
dentro do complexo contexto de seu ambiente social, ou seja, o homem inserido
em um contexto biossocial.
É disso que surge a brincadeira, que deve ser sempre
entendida como uma realização imaginária e ilusória de desejos irrealizáveis,
diante da pergunta "por que a criança brinca?". A imaginação é o novo
que está ausente na consciência da criança na primeira infância, absolutamente
ausente nos animais, e representa uma forma especificamente humana de atividade
da consciência; e, como todas as funções da consciência, forma-se originalmente
na ação. (VIGOTSKI,2008, p.25)
Segundo Vigotski, a criança na chamada primeira
infância, age sempre em função do que vê, ou seja, suas ações ficam presas ao
campo ótico (visual). Porém, já na idade préescolar, ocorre uma reviravolta,
pois a criança ao brincar consegue separar o campo ótico do campo semântico,
separando de fato o objeto da ideia. O
autor cita o exemplo da vassoura, que no brincar, transforma-se em um cavalo
para a criança, promovendo a ruptura entre objeto e significado. Tal fato,
decorre do desenvolvimento das funções simbólicas da criança, onde o brincar se
torna elemento fundamental e relevante neste processo.
É disso que surge a brincadeira, que deve ser sempre
entendida como uma realização imaginária e ilusória de desejos irrealizáveis,
diante da pergunta "por que a criança brinca?". A imaginação é o novo
que está ausente na consciência da criança na primeira infância, absolutamente
ausente nos animais, e representa uma forma especificamente humana de atividade
da consciência; e, como todas as funções da consciência, forma-se originalmente
na ação. (VIGOTSKI, 2008, p.25)
Por que a criança brinca? Essa é a pergunta central que
Vigotski faz ao leitor, explicando que a brincadeira infantil surge a partir
dos desejos irrealizáveis dentro do mundo adulto, e que são
satisfeitos através de uma ação imaginária e ilusória, a brincadeira.
”Para resolver esta tensão, a criança em idade pré-escolar envolve-se num mundo
ilusório e imaginário onde os desejos não realizáveis podem ser realizados,
esse mundo é o que chamamos de brinquedo.” (VIGOTSKI, 2003, p. 122)
Quando a criança pré-escolar deseja andar de cavalo,
mas sabe a impossibilidade de realizar este seu desejo, então, ela começa a
brincar com a vassoura, por exemplo, e este objeto, de forma imaginária, se
torna um cavalo. Para Vigotski, a criança na fase da primeira infância, não
consegue diferenciar o campo visual do campo semântico. Já a partir dos três
anos, na chamada idade pré-escolar, a criança passa então a distinguir o campo
visual e o semântico, ou seja, diferencia aquilo que vê (objeto) de seu significado
(sentido). “Torna-se possível em razão
da divergência, que surge na idade pré-escolar, entre o campo visual e o
semântico” (VIGOTSKI, 2003, p. 128).
Vigotski ressalta ainda que durante a chamada primeira
infância, a força impulsionadora para a criança está nos objetos, e estes
acabam determinando o seu próprio comportamento. Já na idade pré-escolar, isso
de fato não acontece mais, pois os objetos em si acabam perdendo o seu poder
impulsionador de outrora, já que a criança começa a agir de forma diferente em
relação a tudo o que vê.
Devido ao fato de, por exemplo, um pedaço de madeira
começar a ter o papel de boneca, um cabo de vassoura tornar-se um cavalo, a
idéia separa se do objeto; a ação, em conformidade com as regras, começa a
determinar-se pelas idéias e não pelo próprio objeto. (VIGOTSKI, 2008, p. 30)
As intenções e ações lúdicas no jogo possibilitam a
criação da Zona de Desenvolvimento Iminente (ZDI), promovendo a internalização
do real e o desenvolvimento cognitivo. Dentro da contradição da criança entre a
impossibilidade do desejo e a necessidade imediata do querer fazer, Vigotski
então afirma: “Esta subordinação estrita às regras é quase impossível na vida;
no entanto torna-se possível no brinquedo. Assim o brinquedo cria uma zona de
desenvolvimento proximal da criança”
(VYGOTSKY, 2003, p.134).
Logo, o brincar da criança passa a ser uma
transformação criadora, ela também tem a possibilidade de criar, mesmo sob
diferentes escalas, mas cria a partir do que conhece e das oportunidades
oferecidas, dentro de suas próprias necessidades e preferências. Dentro do
jogo, resgata-se na criança sua posição de sujeito histórico e social, pois ela
cria, produz cultura, e ela pode participar ativamente do processo lúdico.
Tais processos criativos construídos dentro de um
contexto lúdico na infância, se dão dentro da denominada Zona de
Desenvolvimento Iminente (ZDI). O jogo ou brincadeira, numa esfera lúdica,
ajuda a construir a subjetividade da criança, e neste ambiente imaginativo,
criativo e simbólico, permite-se alterações qualitativas das estruturas mentais
superiores, promovendo o desenvolvimento pleno da criança.
A Zona de Desenvolvimento Iminente é a distância entre
o nível de desenvolvimento atual da criança, que é definido com a ajuda de
questões que a criança resolve sozinha, e o nível de desenvolvimento possível
da criança, que é definido com a ajuda de problemas que a criança resolve sob
orientação dos adultos e em colaboração com companheiros mais inteligentes.
(VIGOTSKI apud PRESTES 2010, p. 173)
Segundo Vigotski, uma boa aula é aquela onde o ensino
guia o desenvolvimento da criança, ou seja, ocorre quando a aprendizagem
infantil antecede o desenvolvimento, e isso é possível em aulas planejadas e
sistematizadas que favoreçam a criação da Zona de Desenvolvimento Iminente.
Dentro destes princípios criados por Vigotski, podemos analisar e discutir a
inclusão das crianças com autismo nas atividades de práticas corporais e dentro
de um contexto lúdico, que favoreçam a criação da Zona de Desenvolvimento Proximal,
onde se incentive as relações colaborativas entre as crianças e seus pares e
tendo os professores como mediadores das ações.
Deriva deste conceito acima, a lei geral de Vigotski,
também conhecida como lei básica do desenvolvimento humano, que se aplica tanto
a crianças sem deficiência, quanto a crianças com deficiência. A lei geral de
Vigotski, afirma que:
Qualquer função
psicológica superior no processo de desenvolvimento infantil se manifesta duas
vezes, primeiramente como função da conduta coletiva, como a organização da
colaboração da criança com as pessoas que a rodeiam; depois, como uma função
individual da conduta, como uma capacidade interior da atividade do processo
psicológico. (VIGOTSKI 1997, p.109)
Sendo assim, segundo a lei básica do desenvolvimento
humano criada por Vigotski, podemos verificar que o desenvolvimento das funções
psicológicas superiores da criança (a memória, o pensamento, o raciocínio, a
imaginação e a linguagem) se dão primeiramente dentro de um contexto de
interação social coletiva, através do convívio com o outro, que pode ser, por
exemplo, com os colegas ou com os professores, sendo capazes de gerar relações
de colaboração e de intercâmbio social. Em seguida, a criança, após se apropriar
destes novos conceitos, saberes e conteúdos, que lhe foram socializados dentro
destas interações sociais, estes novos atributos se transformam em uma
capacidade interior, ou seja, passam a ser capacidades individuais, onde a
função de conduta coletiva se transformou em uma função de conduta individual.
Portanto, todos os princípios de Vigotski citados ao
longo deste trabalho, o conceito de Zona de Desenvolvimento Iminente, o
desenvolvimento das características socioafetivas, motoras e cognitivas através
do brincar, foram todos analisados e incluídos, a fim de facilitarem as
construções de estratégias de ensino para as crianças com autismo matriculadas
no projeto. Todos estes conceitos importantes, nos auxiliaram na construção de
instrumentos pedagógicos e de estratégias para o planejamento das aulas em vivências
de práticas corporais aquáticas para as crianças autistas matriculadas no
projeto de extensão LABBRINC da Universidade Estadual de Goiás. O objetivo
principal foi em formular estratégias pedagógicas e instrumentos educacionais
de inclusão de alunos autistas nas aulas de natação infantil, pautadas na
Teoria Histórico Cultural de Vigotski, e que também pudesse fornecer elementos
didáticos favoráveis, para a aprendizagem de conceitos e fundamentos da natação
para além do ensino técnico e instrumental, muito comum no ensino tradicional
da natação infantil.
METODOLOGIA/PERCURSO DIDÁTICO-PEDAGÓGICO
Através da execução de ações extensionistas dentro das
chamadas práticas corporais aquáticas, o projeto LABBRINC, vinculado à
Universidade Estadual de Goiás, oferece
atividades de extensão à comunidade goianiense de forma pública e gratuita,
tendo como público-alvo crianças de 05 a 12 anos de idade. Este trabalho, traz
experiências de ensino e de aprendizagem em atividades relacionadas à cultura
corporal aquática, em natação infantil e
iniciação à natação, inseridas dentro de um contexto repleto de atividades
lúdicas e planejadas. Tais atividades foram realizadas dentro da Universidade
Estadual de Goiás, Unidade ESEFFEGO, no Centro de Excelência dos Esportes. As
matrículas do projeto LABBRINC, sempre
são realizadas, de forma a incluir crianças com e sem deficiência, destacando
que se trata de uma ação extensionista de caráter inclusivo, e por isso, várias
crianças autistas também participaram e participam das aulas executadas neste
projeto, durante os anos de 2022 e 2023.
O elemento lúdico constitui-se num dos eixos mais
importantes deste projeto de natação infantil, pois abarca a fase da infância,
onde as atividades lúdicas do brincar constituemse na atividade principal,
promovendo as mais diversas e diferentes formas de desenvolvimento da criança.
A atividade mais importante na infância é o brincar, onde as atividades lúdicas
ocupam papel fundamental para o desenvolvimento pleno das crianças (cognitivo,
emocional, afetivossocial e motor). A Teoria Histórico Cultural, pautada em
Vigotski, se tornou a base teórica para o planejamento e execução das aulas no
projeto LABBRINC. Para Vigotski,
aprendizagem não equivale a desenvolvimento, mas toda aprendizagem
construída de forma organizada torna-se em desenvolvimento mental e alavanca
uma série de processos evolutivos que jamais se efetuariam separados da
aprendizagem. Sendo assim, a aprendizagem é necessária ao processo de
desenvolvimento cultural organizado, e toda boa aprendizagem é aquela que
precede o desenvolvimento. (BAQUERO, 1998, p.98). E estes foi um dos princípios
basilares na construção e na condução de todas as aulas do projeto de
extensão, e que permitiram a elaboração
de instrumentos pedagógicos importantes, que garantiram as interações
colaborativas entre as crianças com e sem deficiência, e a plena participação
nas aulas, com o destaque para a inclusão das crianças autistas.
No transcorrer das aulas no projeto de extensão, sempre
houve a preocupação pela busca de instrumentos pedagógicos capazes de promover,
no ambiente de aula, as interações e as colaborações entre as crianças com os
seus pares, e também o intercâmbio pleno entre as crianças e os
professores/monitores. Sempre partimos da premissa de que o bom ensino deve
operar sobre as conquistas de desenvolvimento ainda em aquisição e adquiridas
com auxílio do outro, ou seja, planejamento de aulas, dentro de uma ambiente de
interações lúdicas, colaborativas e dialógicas, capazes de promover a criação
da chamada Zona de Desenvolvimento
Iminente (ZDI):
A criança tornar-se-á capaz de realizar de forma
independente, amanhã, aquilo que, hoje, ela sabe fazer com a colaboração e a
orientação. Isso significa que, quando verificamos as possibilidades da criança
ao longo de um trabalho em colaboração, determinamos com isso também o campo
das funções intelectuais em amadurecimento; as funções que estão em estágio
iminente de desenvolvimento devem dar frutos e, consequentemente
transferirem-se para o nível de desenvolvimento mental real da criança.
(VIGOTSKI apud PRESTES 2010, p.174)
Sendo assim, o planejamento e a execução das aulas de
atividades lúdicas no meio aquático, consideraram sempre o brincar como
elemento importante na construção dos processos de aprendizagem infantil. Os
conteúdos da natação foram ensinados de forma dialógica e dentro de atividades
lúdicas, alegres e prazerosas. Fundamentos da natação infantil, tais como
flutuação, apnéia, respiração, propulsão, braçadas, pernadas, inversão,
palmateios, equilíbrio e mergulho, foram ensinados e apropriados pelas crianças
de forma alegre, criativa e envolta por elementos lúdicos do brincar.
Analisamos que houve grande interação das crianças autistas com os demais
colegas, principalmente quando eram incluídos brinquedos e brincadeiras nas
atividades aquáticas. O ambiente lúdico foi capaz de multiplicar as interações
das crianças autistas, potencializando os intercâmbios coletivos entre os pares
criança-criança e criança-professor. A maioria dos movimentos e fundamentos da
natação, tais como a respiração invertida, flutuação e deslizes sobre a
superfície da água, foram apropriados e desenvolvidos também pelas crianças
autistas, que sempre eram assessoradas e
auxiliadas pelos professores-monitores, que continuamente as
acompanhavam dentro do meio aquático. As crianças autistas também participaram
ativamente de brincadeiras aquáticas dentro da piscina, juntamente com as
demais crianças e os professores-monitores. As principais brincadeiras
coletivas, em que mais se destacaram a participação plena das crianças autistas
foram: “Elefante Colorido”, onde se utilizavam bolas coloridas; “Tubarão e
Golfinho”, uma espécie de pique-pega na água e com a utilização de boias em
formato de tubarão e golfinho; “Morto Vivo”, onde as crianças precisam
submergir na água e soltar borbulhas pelo nariz. Estes elementos lúdicos foram
capazes de criar instrumentos colaborativos entre as crianças com autismo e as crianças sem
autismo, este intercâmbio de vivências estre as crianças, e sempre mediado pelo
professor-monitor, potencializou as interações, construindo um ambiente de
aprendizagem e de desenvolvimento da capacidades motoras, cognitivas e
socioafetivas das crianças.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Através da inclusão de conteúdos lúdicos na
aprendizagem do ensino da natação, pautados na Teoria Histórico Cultural de
Vigotski, foi possível ensinar às crianças, os fundamentos da adaptação ao meio
líquido (flutuação, respiração, palmateio, apnéia, equilíbrio e inversão), e
dentro de uma proposta que buscou superar o ensino apenas das técnicas e
transcender o enfoque médico, foi possível a realização da inclusão de crianças
com autismo dentro das aulas de natação infantil. A inclusão de conteúdos lúdicos,
com jogos e brincadeiras no meio
aquático, permitiram uma maior interação social das crianças na piscina,
criando sentidos e significados aos conceitos e conteúdos ensinados.
Descobrimos ainda ser possível, dentro deste ambiente lúdico, a criação da
chamada Zona de Desenvolvimento Iminente (ZDI), onde as crianças aprendem umas
com as outras, também com o professor, e depois destas trocas e intercâmbios
sociais no brincar, se apropriaram dos conceitos e fundamentos da natação,
passando a ter mais autonomia no meio líquido, se deslocando na água de forma
prazerosa e independente. A criação plena de uma ZDI no contexto das aulas de
natação infantil, permitiu um verdadeiro intercâmbio de saberes, conhecimentos
e relações socioafetivas entre as crianças com e sem autismo. Este ambiente lúdico e de cooperação, pautado
em instrumentos pedagógicos sistematizados dentro da Teoria Histórico Cultural
de Vigotski, permitiu a criação de instrumentos
educativos eficazes para a plena inclusão de alunos com autismo nas aulas de
natação infantil no projeto de extensão LABBRINC da Universidade Estadual de
Goiás.
Sendo assim, foram observadas que as atividades lúdicas
na infância passam a subsidiar instrumentos pedagógicos capazes de gerar uma
transformação criadora na infância, onde a criança também tem a possibilidade e
a oportunidade de criar, aprender e
desenvolver movimentos e habilidades aquáticas. Dentro do brincar em atividades
aquáticas, resgatouse na criança com autismo, a sua posição de sujeito
histórico e social, pois ela pôde participar das aulas, interagir com outras
crianças e ainda aprender de forma plena, dentro de um processo lúdico, em um
contexto de cooperação social com outras crianças, os fundamentos da natação.
Portanto, a sistematização de aulas de natação
infantil, dentro de um contexto lúdico, com conteúdos de jogos e brincadeiras,
e ainda com a criação de uma ambiente coletivo de interação e de cooperação
entre as crianças, pautados na Teoria Histórico Cultural de Vigotski, permitiu
a criação de instrumentos e de estratégias importantes para a inclusão e o desenvolvimento da criança com autismo,
através de processos criativos, colaborativos, dialógicos e democráticos que
tratam a criança como sujeito de direitos e produtora de cultura.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este projeto, ainda em andamento, demonstra que o bom
ensino das práticas corporais aquáticas, é aquele onde a aprendizagem guia o
desenvolvimento, e é capaz de criar instrumentos pedagógicos eficazes, capazes
de tornar possível a inclusão de crianças autistas dentro das aulas de natação.
Observou-se neste projeto que é fundamental a sistematização de aulas que sejam
capazes não somente de desenvolver as capacidades motoras, cognitivas e
socioafetivas nas crianças, mas que também sejam capazes de criar estratégias
eficazes de inclusão de alunos com deficiência nas aulas de natação infantil.
Vimos que os conceitos e os princípios da Teoria Histórico Cultural de
Vigotski, ajudaram a construir e planejar as aulas de natação infantil, através
de formulação de procedimentos pedagógicos para a criação de um ambiente
favorável à aprendizagem e ao pleno desenvolvimento das crianças. Sendo assim,
aprendemos que é fundamental para o professor um planejamento sistematizado de
aulas, que considere instrumentos pedagógicos importantes, como a criação da
chamada Zona de Desenvolvimento Iminente (ZDI), a fim de que as crianças
possam, de forma inclusiva, coletiva e
colaborativa, aprender umas com as outras, dentro de
um contexto lúdico e mediadas pelos professores, para o pleno desenvolvimento
de suas habilidades motoras, cognitivas e socioafetivas dentro das aulas de
natação infantil.
REFERÊNCIAS
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1998.
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no âmbito da Pós-Graduação em Educação Especial da Escola Superior de Educação
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PRESTES, Zoia Ribeiro. Quando
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_______________________. A Formação Social da Mente – o
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_______________________. A brincadeira e o seu
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