quinta-feira, 19 de novembro de 2020

Aulas de Natação na Pandemia do Novo Coronavírus

 


Foto 01 - Atletas olímpicos brasileiros do COB treinam em Portugal para as olimpíadas de Tóquio em virtude da pandemia.


(Escrito por: Renato Coelho)

Quando se devem iniciar as aulas ou treinamentos de natação para grupos de alunos iniciantes ou de nadadores de alto rendimento durante a pandemia do novo coronavírus? Uma turma de natação pode criar um ambiente favorável  de transmissão do novo coronavírus (“super-spreader”)? Medição de temperatura na entrada, álcool em gel nas mãos, tapetes sanitizadores, máscaras, protetores faciais em acrílico, ambientes abertos e todos os demais protocolos de biossegurança criados são realmente seguros e eficazes? As repostas a essas perguntas estarão sempre relacionadas à dinâmica de crescimento da pandemia, ou seja, de acordo com a mensuração e controle das taxas de contágios do novo coronavírus numa dada cidade ou região. Quando os índices de contágios pelo novo coronavírus estão em fase ascendente (crescente), significa que a pandemia está fora de controle e portanto não deve haver aulas com grupos ou turmas de natação, seja em ambientes abertos ou fechados. Não importa o quanto sejam rígidos os protocolos de biossegurança ou as normas de proteção, os participantes das aulas sempre estarão sobre risco iminente de contágio quando a pandemia estiver fora de controle, ou seja, na sua fase ascendente.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) (https://www.who.int/eportuguese/publications/pt/), existem seis critérios em que países, estados e municípios devem observar antes de flexibilizarem as regras de isolamento social e assim estabelecer cronogramas para a abertura de atividades tais  como: comércio, indústria e instituições educacionais, incluso aqui também as aulas em escolas de natação. São critérios científicos e adotados por diversos países, que diferentemente do Brasil, conseguiram controlar a pandemia do novo coronavírus no primeiro semestre de 2020. Somente estes critérios são capazes de definir com exatidão e segurança qual o momento exato para se permitir a abertura e flexibilização para as diversas atividades humanas na área da economia, lazer, entretenimento, esporte e educação. Sabemos que atualmente uma voraz e rápida segunda onda de contágios avança sobre países de diversas regiões do planeta, que não tomaram as medidas corretas no seu devido tempo, e os índices de contágios e de óbitos voltaram a subir de forma drástica e descontrolada nestas mesmas regiões, provando que o vírus é mais perigoso do que se imaginava.

Vamos então aos critérios da OMS que podem nortear a abertura de escolas e  também de turmas de natação:

O primeiro critério, segundo a OMS, diz que a cidade ou região deve possuir um sistema de saúde capaz de identificar, testar, isolar, rastrear todos os contatos e tratar as pessoas infectadas. A testagem em massa é fundamental para o efetivo controle da pandemia. Faz-se a testagem de toda a população, em seguida isolam os positivados, depois faz-se o rastreamento de todos as pessoas que tiveram contatos recentes com essas mesmas pessoas contaminadas. O segundo critério é a garantia de que os locais de trabalho e os demais ambientes  frequentados por todas as pessoas sejam locais seguros  contra os contágios, ou seja, arejados, sem aglomerações e com disponibilidade de equipamentos de segurança individual (EPI). O terceiro critério diz respeito a adoção de barreiras sanitárias para atender os casos de pessoas já contaminadas e cuja origem seja de fora da cidade ou do país (casos importados), seja em aeroportos, rodovias, portos ou entradas das cidades. O quarto critério é o controle de eventuais surtos em locais estratégicos como hospitais e casas de repouso, para se evitar o aumento na taxa de crescimento da pandemia. O quinto critério é a adoção de medidas preventivas para a conscientização da população com relação à pandemia e suas formas de contágio. O sexto e último critério sugere que a reabertura e flexibilização das atividades econômicas, sociais e culturais  devem ocorrer somente quando as taxas de contágios estiverem em queda, ou seja, somente quando a pandemia estiver sob controle.

Uma regra importante e que não foi listada pela OMS é a adoção de políticas econômicas robustas de fomento para as empresas e para todos os trabalhadores de atividades não essenciais que foram obrigados a participar do isolamento social.

Assim sendo, vemos que em Goiás e em Goiânia, os governos não adotaram e continuam não adotando de forma integrada nenhuma dessas  seis medidas de prevenção e de controle da pandemia. O que presenciamos são flexibilizações precoces e aligeiradas que são as grandes responsáveis pelo número exagerado de mortes, onde os professores de Educação Física e todos os demais trabalhadores em geral acabam por arriscarem as suas próprias vidas para a manutenção diária de suas necessidades materiais e financeiras, simplesmente porque não existe nenhuma ação coordenada para a promoção do controle da pandemia por parte dos governos (Municipais, Estaduais e Federal). 

O crescimento e a velocidade de epidemias obedecem às chamadas curvas exponenciais, onde a velocidade do surgimento de novos casos estará sempre relacionada ao número de casos pré-existentes, crescendo vertiginosamente numa progressão geométrica, podendo dobrar em semanas ou dias a quantidade total de novos casos e de óbitos a depender de sua dinâmica. A forma e a trajetória desta curva se relaciona a vários fatores, como o nível de isolamento populacional, o uso de protocolos de saúde, como por exemplo, o uso obrigatório de máscaras em locais públicos, a existência ou não de vacinas, da quantidade de pessoas imunes e também às características do próprio vírus.



Figura 01 - Curva exponencial de uma pandemia com 3 ondas

O chamado coeficiente de transmissão (Rt) mede a velocidade de transmissão do vírus, ou seja, ele é capaz de nos informar se a pandemia em determinada região ou país está em processo de aceleração ou de desaceleração. A Grosso modo, o coeficiente de transmissão Rt da pandemia mede a inclinação da curva exponencial, ou seja, se a curva é crescente, significa que há aumento na taxa de transmissão, então Rt  > 1, e consequentemente haverá aumento de casos de novos contágios (ver Figura 01 acima). Caso a curva seja decrescente Rt < 1, significa que a pandemia está em desaceleração, logo haverá diminuição na taxa de novos contágios. Portanto, sendo Rt > 1 a pandemia está em estágio de crescimento acelerado, e sendo Rt < 1, significa que a pandemia está em processo de desaceleração. Por exemplo, o Brasil hoje, no atual estágio da pandemia apresenta hoje Rt = 1,21 e significa que cada grupo de 100 pessoas é capaz de contaminar outras 121 pessoas (aumento da transmissão). Em outubro o valor Rt no Brasil chegou ao valor de 0,68 e significava que um grupo de 100 pessoas era capaz de contaminar outras 68 pessoas (transmissão em desaceleração). Então, seguindo as normas e observações das taxas de crescimento da pandemia, os períodos recomendados para funcionamento de aulas de natação devem seguir não somente os protocolos de biossegurança recomendados (máscaras, álcool em gel, protetor facial, distanciamento social), mas também a observância da taxa de crescimento da pandemia (Rt) e sem o acompanhamento diário de Rt, a utilização de equipamentos de biossegurança se torna ineficaz. Quando Rt > 1, as aulas devem ser automaticamente suspensas (ver gráfico 02 abaixo).


Figura 02 - Taxa de transmissão e o período recomendado para aulas de natação 

Na Figura 02 acima, no período de 0 até A, vemos que a curva é crescente e o valor de Rt>1, logo não se recomenda a prática de aulas em escolas de natação ou em academias. De A até B a curva cresce e continua com Rt>1. Já de B até C a curva apresenta uma acentuada desaceleração Rt<1, porém o número de novos  contágios apresenta uma média alta (acima de M), e por isso também não se recomenda a prática de aulas coletivas de natação, seja em escolas ou academias. Na trajetória de C a D na curva observarmos uma desaceleração dos contágios Rt<1 e uma média inferior a M, tornando segura a abertura de escolas e academias de natação, desde que utilize todos os protocolos de biossegurança (máscara, álcool gel, etc.) e o distanciamento social. 

Quando se promove o isolamento social é justamente para tentar frear a curva exponencial e achatá-la, ou seja, de permitir que o sistema de saúde local tenha condições de atender à grande demanda exigida pela pandemia, sem permitir com que o sistema de saúde entre em colapso. Entretanto, o que assistimos no Brasil, durante o ano de 2020, foi que nenhum governo municipal, estadual e muito menos o governo federal conseguiu achatar a curva e evitar o colapso do sistema de saúde nas diferentes regiões do país. As curvas atingiram o pico abruptamente e de forma avassaladora nas regiões Norte, Sul, Centro-Oeste, Nordeste e Sudeste do Brasil sem exceção, e hoje enfrentamos uma segunda onda de contágios.

Nunca houve no Brasil quarentena verdadeira, as constantes e apressadas flexibilizações do comércio, a forte pressão do governo Federal para o fim do isolamento social adotado por governadores e ainda a falta de remuneração salarial por parte do Estado para as pessoas realmente se manterem em casa durante a pandemia, fizeram fracassar qualquer tipo de planejamento ou estratégia de isolamento social no país. Não é possível para as famílias de trabalhadores  se manterem afastadas do trabalho e em casa sem uma remuneração salarial por parte do Estado. O chamado auxílio emergencial, além de ter sido tardio, com um valor inicial  e irrisório de apenas 600 reais, que hoje foi reduzido para a metade (300 reais), tornou inviável qualquer forma de quarentena ou de isolamento social eficaz para a  maioria dos trabalhadores e de desempregados do Brasil. Era dever do Estado financiar e garantir  a quarentena da população brasileira com remuneração salarial digna (valor maior ou igual a 01 salário mínimo) para todos os trabalhadores brasileiros que foram obrigados a ficarem em casa durante a quarentena. Tal medida não somente permitiria a realização da quarentena por milhões de brasileiros, assim como também garantiria a manutenção dos empregos a curto e médio prazo.

O que assistimos atualmente no Brasil é o vírus totalmente fora de controle e a promoção por parte do Estado de um verdadeiro extermínio de classe, onde milhares de trabalhadores pobres e desempregados morrem cotidianamente no país. Se antes da pandemia os números da miséria e do desemprego já eram altos, promovendo uma vida anormal, esses números aumentaram ainda mais durante o ano de 2020. A pandemia ajuda a desnudar e também potencializar as injustiças e mazelas do Brasil e do mundo.

 

 



segunda-feira, 16 de novembro de 2020

Natação e Pandemia



Foto 01 - Parque Aquático - Centro de Excelência dos Esportes - ESEFFEGO  (Goiânia)


(Escrito por Renato Coelho)

Atualmente o mundo está enfrentando uma pandemia que tem provocado, além das graves crises econômicas e sociais, também centenas de milhares de contágios e de óbitos em pessoas por todo o planeta. Segundo os dados atuais do Ministério da Saúde, o Brasil já contabiliza mais de 409.000 óbitos pela Covid-19 e aproximadamente 15 milhões de contágios desde o início da pandemia. Mesmo sabendo que estes números são subnotificados, é uma estatística assustadora e inadmissível, e no entanto, poderia ter sido uma realidade muito diferente se existissem políticas públicas de mitigação e de prevenção de contágios no país. 
O vírus Sars-Cov-2 tem demonstrado ser bastante contagioso e de alta letalidade, e ainda totalmente desconhecido pela ciência moderna. Não se sabe ainda com exatidão e clareza como é a sua real dinâmica de contágios e as suas diferentes formas de ação sobre o corpo humano. São várias as perguntas ainda sem respostas sobre o novo coronavírus e a cada dia surgem novas perguntas. Como se dá as transmissão do vírus em crianças? Por que pessoas jovens e sem comorbidades morrem pela covid-19? Como surgiu de fato a primeira transmissão pelo Sars-Cov-2 em humanos? Existem protocolos de segurança 100% eficazes? As vacinas recém descobertas serão eficazes diante das novas mutações?

E é dentro deste contexto tenebroso em que se encontra atualmente a Educação Física e o ensino da natação, onde professores e alunos estão diariamente participando de aulas em pleno auge de contágios e de óbitos, entretanto, sem nenhuma certeza sobre a real situação da pandemia em Goiás e no Brasil. É seguro ministrar aulas de natação no estágio atual da pandemia? Podemos confiar inteiramente nos protocolos adotados pelas escolas e clubes de natação? Quais os verdadeiros riscos para praticantes e professores de natação diante da propagação acelerada do vírus? Deve-se cancelar ou manter as aulas de natação no atual momento  da chegada iminente de uma terceira onda da pandemia no Brasil?

No dia 11 de março de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) deflagrou tardiamente o alerta de pandemia do vírus Sars-Cov-2 para todos os países, e no dia 13 de março, o governo do Estado de Goiás, através do decreto nº 9633, impôs várias medidas de isolamento social com paralisação de todo o setor produtivo, exceto as chamadas atividades essenciais ligadas à saúde, alimentação e ao transporte. E no dia 15 de março todas as atividades presenciais das instituições educacionais também foram suspensas e substituídas por aulas remotas via internet. A partir de então, todas as aulas presenciais foram substituídas pelo chamado Ensino à Distância (EaD), inclusive as aulas de natação em escolas, condomínios, clubes e universidades. Aulas presenciais em geral foram substituídas por aulas virtuais, a fim de se evitar aglomerações e contatos diversos entre pessoas que pudessem potencializar os contágios pelo novo coronavirus. E também as aulas presenciais de natação entraram nesse universo de proibições. Não houve de fato continuidade ou eficácia nas medidas iniciais adotadas pelo governo estadual, não perdurou se quer por duas semanas e ainda sempre a pressão e o lobby dos setores econômicos contra medidas rígidas de controle da pandemia prevaleceram. Não houve tão pouco a criação pelo governo estadual de políticas públicas efetivas de auxílio econômico aos que perderam os empregos ou que tiveram que paralisar o trabalho. Os resultados são contabilizados atualmente nas mais de 15 mil vidas abreviadas somente no estado de Goiás, sendo uma das mais altas taxas proporcionais de mortalidade de todo o mundo.

Mas afinal de contas, quais seriam os problemas para a suspensão das aulas presenciais de natação? Haja visto que as mesmas são realizadas em ambientes abertos, ao ar livre e a água das piscinas possuem alta concentração de cloro? Então, o por quê da sua suspensão? Vamos para as respostas:

Desde que não haja aglomerações, as atividade da natação em si mesma ou qualquer outra atividade aquática não é capaz de potencializar ou promover contágios ou mortes pela covid-19, ainda mais levando-se em conta que as atividades aquáticas são realizadas, em sua maioria, em espaços abertos e ao ar livre. As questões relacionadas aos contágios não se relacionam diretamente às práticas dos exercícios físicos aquáticos em si, sejam em piscinas, rios, lagos ou no mar. Entretanto, o maior perigo reside de fato nos contatos e aglomerações que essas atividades aquáticas são capazes de promover dentro ou fora das piscinas, ou ainda nas escolas de natação. Aulas de natação não são comparáveis a outras atividades sociais quaisquer, pois envolvem grupos de pessoas que podem produzir interações totalmente distintas daqueles realizados em áreas comerciais ou em locais de lazer. Uma pessoa pode nadar sozinha numa piscina, realizar um mergulho livre e solitário no rio, lagoa ou no mar sem contribuir para a propagação do vírus Sars-Cov-2. O grande problema é que as atividades aquáticas podem ser promotoras de aglomerações, seja numa praia e mais ainda numa escola de natação. Uma criança, por exemplo, que participa de uma aula de natação com uma pequena turma de 30 alunos é capaz de efetuar mais de 808 contatos apenas na  primeira semana de aula (com apenas 3 aulas por semana), contando todos os contatos no seu trajeto, a partir da saída de sua casa até a escola de natação, no caminho de ida e volta, e também levando em conta os contatos que se dão no interior da escola com colegas e professores. Além da possibilidade de se promover aglomerações de pessoas numa aula de natação, há que se destacar ainda um segundo fator importante, que é o tempo de permanência nas aulas, que pode durar em média entre uma e duas horas, ampliando ainda mais a margem de contatos.

A água da piscina estando higienizada, clorada e constantemente tratada, estará com o índice de PH ideal, e assim não se tornará em ambiente favorável a novos contágios, pois o vírus Sars-Cov-2 não é capaz de sobreviver ao contato de soluções químicas adicionadas à água de uma piscina tratada regularmente. Porém, segundo pesquisas recentes, o vírus Sars-Cov-2 é capaz de sobreviver em determinadas superfícies por horas ou dias. Por exemplo, no aço inoxidável e no plástico, o tempo médio de vida do novo coronavirus é de 3 dias; já no papelão é de 1 dia e no cobre é cerca de 4 horas. Logo, mesmo sabendo que é muito baixa a possibilidade de transmissão do vírus através de superfícies de contato (1 em cada 10.000)  os locais onde se realizam as aulas de natação podem se transformar facilmente em ambientes chamados de “super transmissores” do vírus, através de contágios nas maçanetas das portas, nos vestiários, nos armários, nas cadeiras, catracas, pisos, corrimãos e etc.



Fig. 01 - Tempo de vida do Novo Coronavírus em superfícies distintas.

Supondo ainda que tais ambientes onde se realizam as aulas de natação sejam sanitizados diariamente, higienizados e passem por rigorosos protocolos de segurança sanitária contra contágios por vírus, o grande problema passa a ser agora os contatos sociais dentro das aulas, as interações e as aglomerações dentro e em volta das piscinas. Numa piscina, mesmo considerando as instalações em espaços abertos, os contatos mais importantes entre alunos e professores, e entre alunos e alunos se dão principalmente nas bordas das piscinas, nos blocos de saída, nas escadas das piscinas e nos vestiários. Torna-se praticamente impossível eliminar esses contatos considerando as relações e interações nas aulas de natação, dentro e fora das piscinas. E quando se trata de aulas de natação para crianças entre 01 a 05 anos de idade, quando há a necessidade do professor(a) estar na água junto com a criança, não sendo possível o distanciamento social, a transmissão do vírus se torna muito mais fácil e rápida, sendo capaz de promover novos surtos. 

Outro fator importante e que deve ser levado em consideração com relação ao ensino da natação em tempos de pandemia, é que a prática da natação, por ser uma atividade essencialmente aeróbica, envolve contínua e  intensa respiração (inspiração e expiração de forma explosiva) capaz de potencializar a produção de gotículas de saliva e de aerossóis no ambiente externo. Uma outra característica importante da respiração durante a atividade de natação, consequência da inspiração e expiração rápida, contínua e explosiva, é a eliminação intensa e contínua de expurgos, ou seja, é muito comum um nadador expelir durante as aulas na piscina, uma grande quantidade de fluídos pelo nariz e pela boca, como por exemplo, grande quantidade de catarro. E essa importante peculiaridade da prática de natação, pode facilitar os contágios e surtos pelo novo coronavirus, bastando apenas um único aluno estar positivado para a Covid-19 e presente nas aulas.

Existem normas e protocolos importantes a serem utilizados em aulas de natação, como o rodízio de alunos, distanciamento (um aluno por raia), disponibilização de álcool em gel, uso de máscaras e protetores faciais pelos professores, escalonamento de horários por turmas, uso de tapetes sanitizantes e etc. Porém, a continuidade ou não das aulas deve obedecer a rígidos critérios relacionados ao grau de contágios e de óbitos na cidade ou país. Caso contrário, nenhuma destas normas ou protocolos, por mais rígidos que sejam, surtirão o efeito esperado no que tange à proteção de alunos e de professores nas aulas de natação, pois não existe protocolo sanitário com 100% de eficácia quando se registra crescimento na curva exponencial de contágios (Rt > 1).



Fig. 02 - Coeficiente de Transmissão Rt  (Rt > 1 e Rt < 1)


O chamado coeficiente de transmissão (Rt) mede a velocidade de transmissão do vírus, permitindo acompanhar a taxa de evolução e a dinâmica da pandemia ao longo do tempo. Como mostra a figura 02 acima, quando a curva sobe (ascendente) significa que a taxa de transmissão está em aceleração (Rt > 1), indicando que os contágios estão aumentando. Quando a curva é descendente,  significa que Rt<1, logo os contágios estão diminuindo ao longo do tempo. Quando Rt = 1 , significa que a curva é constante (platô). Por exemplo, se numa dada cidade o Rt = 2,3 (Rt > 1), significa que 10 pessoas transmitem o vírus para outras 23 pessoas, mostrando que a pandemia está fora de controle e crescendo. Se o Rt = 0,5 (Rt<1) demonstra que 10 pessoas contaminadas trasmitem o vírus para outras 5 pessoas, assim sendo a pandemia está sob controle e em diminuição. As aulas de natação só devem ser realizadas quando o Rt <1 e ainda quando os números absolutos de contágios e de óbitos também forem baixos. É importante destacar também que segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), para a abertura de escolas e quaisquer outras atividades não essenciais, o número de testes positivios em RT-PCR da população nunca deve ser superior a 10% (100 testes positivados para cada 1.000 pessoas testadas) 

Portanto, não basta apenas a adoção de critérios de biossegurança nas aulas ou em escolas de natação. O uso de álcool em gel nas mãos, medidor de temperatura, máscaras e protetores faciais de acrílico não são capazes de garantir total segurança de alunos e de professores numa escola ou academia de natação.  É fundamental ainda observar a dinâmica de evolução do vírus na cidade ou região na qual residem os sujeitos envolvidos nas atividades de ensino e aprendizagem da natação. Quando, por exemplo, o coeficiente de transmissão (Rt) em uma cidade for superior a 1,  (Rt>1) indicando aceleração de contágios numa dada região, as aulas de natação devem ser suspensas, pois não existem protocolos seguros e eficazes para aulas presenciais de natação quando a curva exponencial de contágios é crescente (Rt>1), e o melhor a se fazer nesta situação é o isolamento social e o cancelamento das atividades não essenciais, como por exemplo as aulas de natação.  Porém, não é isso o que estamos presenciando em Goiás e no Brasil. Com a flexibilização de todas as atividades econômicas não essenciais e o total descontrole da pandemia em Goiás, estamos assistindo o surgimento de uma iminente terceira onda de contágios e com características mais danosas e agressivas do que a primeira e a segunda onda que assistimos no segundo semestre de 2020 (1º onda) e recentemente em março e abril de 2021 (atual 2º onda), podendo infelizmente produzir maiores danos e vítimas.