terça-feira, 8 de dezembro de 2020

Entrevista com uma Professora de Natação na Pandemia: riscos e temores

 



(Por Renato Coelho)


A entrevista abaixo foi realizada em setembro de 2020, de forma remota e através de um aplicativo de mensagens e por e-mails, com uma professora de natação e ex-aluna (egressa) do curso de licenciatura em Educação Física da UEG - ESEFFEGO, e que atualmente ministra aulas de natação em uma academia privada da capital goiana. Ela relata as suas experiências e os temores em estar lecionando natação de forma presencial em Goiânia num momento  crítico da primeira onda da pandemia e marcada pelo aumento de contágios e de óbitos na cidade provocados pelo novo coronavirus. O nome da professora e o local de trabalho não serão revelados a fim de conservar o anonimato e a privacidade da entrevistada.

 

1.    Após a sua formação em licenciatura na Eseffego, quais as demais formações adquiridas neste período?

Tive que fazer a complementação em bacharelado para arrumar um emprego. Depois fiz uma especialização em metodologias da Educação Física e atualmente faço mestrado.

 

2.    Em quais estabelecimentos de ensino você trabalha atualmente?

Academia. Como professora de natação

 

3.    Durante o período em que vigorou o decreto estadual de suspensão das atividades econômicas no primeiro semestre de 2020, você continuou trabalhando na sua área de educação física? Durante esse período você recebeu o salário de forma integral?

Fiquei com o contrato suspenso do mês de março a meados de agosto, sem trabalhar, porém, recebendo auxílio de suspensão de contrato do governo por ter carteira assinada. Porém, muita gente foi demitida! Esse auxilio era de um salário mínimo (inferior ao meu salário integral).

 

4.    Como está sendo realizado o seu trabalho atualmente após as flexibilizações das medidas de isolamento? Seu trabalho é presencial ou remoto?

Voltei a trabalhar presencialmente. Está sendo bastante arriscado, pois na natação não é possível aderir às medidas de segurança.

 

5.    Quais as dificuldades e temores em estar trabalhando na área de educação física em Goiânia num momento em que os índices de contágios e de óbitos estão muito elevados?

O medo é diário. Muito contato com alunos que tem contato com outras pessoas. Vários alunos já se afastaram da academia por estarem com o covid, então provavelmente frequentaram as aulas no inicio do contágio. Isso me deixa muito assustada.

 

6.    É possível dar aulas de educação física com segurança no atual momento da pandemia em Goiânia?

Não! É ilusória e totalmente mercadológica essa ideia de academia como algo essencial. Academias são lugares propensos a altos índices de contágios.

 

7.    Qual será o futuro da educação física na sua opinião no mundo com o vírus Sars-Cov-2 ?

Eu ainda não consigo imaginar, mas sei que passaremos por muitas mudanças (já estamos passando).

 

8.    A pandemia fez aumentar a precarização do seu trabalho em educação física?

Sim! Além do medo de estar atuando nesse atual momento, reduções de carga horária que resultaram em redução salarial, fizeram com que essa precarização aumentasse.

 

9.    Você acha que as aulas nas escolas públicas deveriam retornar ainda neste ano? Seria possível dar aulas de educação física nas escolas no atual contexto do Brasil?

Não! Principalmente em escolas públicas. Não concordo que as aulas voltem esse ano!

 

10.                   Como repensar a educação física para este novo século XXI, que está sendo inaugurado agora pelo novo coronavirus?

Como ainda é uma realidade muito nova, não consigo pensar em possibilidades. Mas sei que precisamos de ajustes para que possamos trabalhar com segurança. Professores de academia tem se arriscado bastante.

 

11.       Como está a sua saúde (física e emocional) neste período de trabalho na pandemia?

Já estava bastante desanimada com a área, e esse período me fez desanimar mais ainda. Não sinto motivação para o meu trabalho e não me sinto apta a exercer o trabalho da forma que venho exercendo 



12 comentários:

  1. Ótima exposição. A opinião de quem vivencia essa realidade hoje é importante e corrobora com uma resposta que dei anteriormente quando ela diz que "Voltei a trabalhar presencialmente. Está sendo bastante arriscado, pois na natação não é possível aderir às medidas de segurança."
    Reafirma a minha insegurança com relação a aplicação dos critérios exigidos da OMS.
    Ana Paula Moreira

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  2. Muito bom o questionário, é nítido como o trabalho da nossa área vem sendo precarizado a cada dia, especifico do mundo da natação fica mais claro que é muito difícil manter as medidas de seguranças aumentando os níveis de contagio, e deixo aqui claro a minha preocupação com o futuro da Educação Física e ao retorno das aulas.

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  3. Parabéns , excelente questionário, podemos observar aspectos do nosso processo de formação e como será nosso vida , a natação é uma atividade muito ampla que vem crescendo cada dia mas, e nessa pandemia todos temem pela vida e como será nossa volta ao normal, com medo de se contaminar.

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  4. Excelente entrevista, conseguimos observar como esse vírus tem deixado sequelas, e ainda apresenta um risco muito grande para a população. Situações imprevisíveis tomam conta dos professores que precisam começar a voltar às aulas, e os professores de Educação Física, precisam voltar com a prática. Esse fato trás muita insegurança, e desafios para os professores e necessita de estudos e medidas para preservar a segurança e voltar as atividades de fato.

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  5. A pandemia reinventou o mercado, senti o desânimo dessa professora, mas por necessidade e otimismo está na hora de também reinventarmos o mundo do trabalho na Educação Física, como? Não sei! Cada um se torna sensível a área que atua. Talvez seja a hora de repensarmos as áreas de conhecimento da própria Educação Fisica. A melhor forma de começar essa análise, seria observando como o ensino remoto tem nos mostrado a educação.

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  6. Com o questionário foi possível ver como a EF vem sendo precarizada e os ricos que os profissionais enfrentam por terem a necessidade de trabalhar. Concordo com a observação de um dos colegas que a Educação Física tem que se reinventar, esse processo que estamos vivendo já está mudando muita coisa porém vejo que o retorno das aulas ainda não é seguro e que temos sim que encontrar uma forma de está fornecendo qualidade de vida com segurança.

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  7. Ao ler as perguntas e respostas apresentadas, reflito sobre minha realidade e sobre outras tantas que nem imagino... Entre riscos e necessidades, a linha tênue estabelecida pela sobrevivência, nos deixam apavorados pelo futuro de nossa profissão. Como trabalhar? Quais perspectivas esperar? Só chegam à minha mente mais questões e respostas incertas. Talvez muitos pensem que a paixão e o amor pela profissão, não sejam bastante para lutar por direitos essenciais; já que perderam perspectivas e incentivos. Porém, ao racionalizar a profissão, vejo a necessidade de buscarmos novas perspectivas e possibilidades para as aulas de Educação Física.

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  8. Excelentes perguntas abordadas, podemos analisar que a Educação Física precisa de uma maior cuidado com seus profissionais da área onde estão sofrendo serio riscos por terem que trabalhar. tendo a necessidade de trabalha que medidas podemos tomar para diminuir os riscos, contudo precisamos achar outras formas para desenvolver a Educação Física.

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  9. Bom dia. Questionário interessante, não apenas por abordar uma professora de natação em tempos de pandemia, mas também mostrar algo que muitos profissionais de Educação Física passam hoje, um grande descontentamento com a área de trabalho. Espero que a professora consiga contentamento em seu trabalho, além de forças para suportar o período difícil em que vivemos.

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  10. vemos a realidade de milhares de brasileiros nesta entrevista, redução salarial(muitos não receberam nada neste período e muitos foram demitidos), medo deste período, e tendo que trabalhar para manter a sua sobrevivência porem correndo risco de saúde, nesta situação que estamos passando, não existe uma via de mão dupla onde você pode ou não correr o risco de ser contaminado,onde existem pessoas acima do vírus, Todos e repito todos estão sujeitos ao vírus nessa época, devido s interações sociais que temos, muitas vezes por pura negligencia e muitas vezes por necessidade devido fatores econômicos e de sobrevivência

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  11. Vemos a realidade de milhares de brasileiros nesta entrevista, redução salarial(muitos não receberam nada neste período e muitos foram demitidos), medo deste período, e tendo que trabalhar para manter a sua sobrevivência porem correndo risco de saúde, nesta situação que estamos passando, não existe uma via de mão dupla onde você pode ou não correr o risco de ser contaminado, onde existem pessoas acima do vírus, Todos e repito todos estão sujeitos ao vírus nessa época, devido s interações sociais que temos, muitas vezes por pura negligencia e muitas vezes por necessidade devido fatores econômicos e de sobrevivência.

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  12. Entrevista interessante!
    Nos mostra a realidade de quem está inserido na área, e com certeza de todos àqueles que precisam trabalhar para sua sobrevivência. É triste saber que nossa área tem tido perdas significativas capazes de até desanimar (como exposto na entrevista) a profissional, infelizmente esse relato pode nos abalar, já que somos graduandos do curso. Que possamos de fato ultrapassar as barreiras que o Covid-19 tem nos causado e que após as intervenções (vacinação, controle, etc.) sejam eficazes para retornarmos à nossa vida "normal".

    Mirelly Nazario Santos.

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