A INFÂNCIA NO CONTEXTO DE
“PÓS-PANDEMIA”: ESTRATÉGIAS E
PRÁTICAS DE ENSINO
PARA O DESENVOLVIMENTO DE ASPECTOS MOTORES, COGNITIVOS E SOCIOAFETIVOS [1]
Renato Coelho[1]
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Resumo
Sabemos que a fase mais aguda da pandemia
de Covi-19 já passou, as importantes e imprescindíveis medidas de prevenção
adotadas, tais como o isolamento social, o distanciamento entre pessoas, e
todos as demais regras sanitárias e protocolos de biossegurança, tiveram e
ainda tem relevância no combate à proliferação da covid-19, assim como também
contribuíram eficazmente para salvar milhões de vidas humanas ao redor do
planeta. Porém, em tal contexto de pandemia, que marca este início do século
XXI, as restrições à mobilidade humana, os obstáculos ao pleno convívio social,
que foram impostas à sociedade em geral, e acrescido a estes fatores, o grande aumento da pobreza e das
desigualdades sociais, trouxeram várias consequências econômicas, sociais e
sobretudo no que tange à saúde das
pessoas, e principalmente na saúde das crianças e de suas famílias, que
sofreram impactos psicológicos e também a nível do desenvolvimento de suas capacidades
motoras. Pesquisas recentes realizadas pela Universidade Federal de Minas
Gerais (UFMG, 2022), com 560 bebês nascidos durante a pandemia da Covid-19,
apontaram alta prevalência do número de casos suspeitos de atraso no
desenvolvimento infantil, decorrentes sobretudo do estresse social e das
restrições sanitárias ocorridas durante a pandemia de Covid-19 no Brasil. Sendo
assim, mesmo sabendo que a pandemia não acabou, e neste momento atual de
amortecimento e diminuição das transmissões virais, e na volta das atividades
presenciais, através do projeto de extensão LABBRINC, foi possível resgatar e
promover vivências e práticas corporais em natação e também em jogos
tradicionais, para as crianças que sofreram e ainda sofrem as consequências da
pandemia. Foram elaboradas estratégias de ensino, que permitiram o
desenvolvimento infantil em seus aspectos motores, cognitivos e socioafetivos e
dentro de um contexto lúdico. As intervenções pedagógicas realizadas permitiram
resgatar o protagonismo das crianças em práticas corporais relevantes e
vivências em atividades lúdicas através de conteúdos em jogos tradicionais e em
natação infantil, que pôde promover de forma satisfatória, através de
estratégias de ensino embasadas na Teoria Histórico Cultural, a superação de
atrasos no desenvolvimento motor, e ainda avanços significativos nos aspectos
cognitivos e socioafetivos.
Palavras-chave
– Educação; Infância; Lúdico; Pandemia; Vigotski.
INTRODUÇÃO
Pesquisas realizadas pela UFMG, com 560
bebês nascidos durante a pandemia da Covid-
19, apontaram alta prevalência do número de casos suspeitos
de atraso no desenvolvimento infantil. Os estudos demonstraram que 22% dos
bebês apresentaram suspeita de atraso no desenvolvimento global (cognitivo e
motor), e 52% das crianças apresentaram algum tipo de problema de
comportamento, como irritabilidade e inflexibilidade (UFMG, 2022). A partir destes dados, foi importante o foco
na construção de instrumentos didáticos e de estratégias pedagógicas capazes de
promover o desenvolvimento infantil e que, ao mesmo tempo, pudesse servir de
mecanismo de intervenção para a superação das limitações socioafetivas,
déficits cognitivos e atrasos motores,
observados em crianças, a partir do retorno das aulas presenciais no ano de
2022, matriculadas no projeto de extensão Laboratório de Esportes, Jogos e
Brincadeiras – LABBRINC, da Universidade Estadual de Goiás na cidade de
Goiânia. Tais atrasos no desenvolvimento foram provocados pelo longo e
estressante período de isolamento social em que foram submetidas as crianças e
seus familiares durante o auge da pandemia de coronavírus no Brasil. Sendo
assim, foi adotada a Teoria Histórico Cultural de Vigotski, como instrumento
pedagógico de intervenção nas aulas de jogos tradicionais e em natação
infantil, visando o desenvolvimento cognitivo, motor e socioafetivo das
crianças matriculadas no projeto de extensão.
O enfoque Histórico-Cultural se fundamenta essencialmente
no fato de que o desenvolvimento psicológico humano é um processo complexo,
cujas origens se encontram nas condições e organizações do contexto social e
cultural, construídas ao longo das vivências do indivíduo. A análise
histórico-cultural elaborada por Vigotski foi altamente influenciada pelas
concepções do materialismo histórico dialético de Marx e Engels, de onde ele
extraiu os conceitos sobre atividade, mediação semiótica e a ideia central de
que o ser social determina a consciência social. No projeto LABBRINC, as aulas
e todas as atividades são planejadas dentro do referencial teórico da Teoria
Histórico Cultural.
Vigotski considerava ainda a dupla
dimensão do ser humano, sujeito e sujeitado, dando grande importância à
participação do outro no processo de significação e constituição do sujeito,
sem negar a efetiva participação do Eu, social e historicamente produzido.
(ZANELLA e ANDRADA, 2002, p.127).
O contexto histórico dos escritos de Vigotski, início do
séc. XX, era representado por uma realidade de revolução social, miséria,
guerra civil e opressão. Vigotski, mesmo acometido de tuberculose, passa a
trabalhar até o fim de sua vida praticamente na organização de escolas para
crianças surdas, cegas, com problemas mentais e com transtornos de linguagem.
Vigotski lutou durante toda a vida para mudar todo o paradigma de sua época, ao
explicar que o psíquico humano não era apenas algo inerente ao desenvolvimento
biológico, era na verdade uma realidade complexa e dinâmica entre o biológico,
o social e o cultural.
Vygotski esclarece que o
desenvolvimento é um processo dialético, marcado por etapas qualitativamente
diferentes determinadas pela atividade mediada, justamente o que o promove. Via
atividade, o homem (entendido enquanto sujeito genérico) é capaz de transformar
sua própria história e a história da humanidade, posto que por seu intermédio
transforma o contexto social em que se insere e ao mesmo tempo se transforma.
(ZANELLA E ANDRADA, 2002, p.128)
Para Vigotski, o desenvolvimento dos processos psicológicos
superiores, não são idênticos, nem redutíveis aos fatores que explicam os
processos psicológicos elementares, com os quais estão relacionados os
processos de desenvolvimento natural. Os processos psicológicos superiores se
firmam a partir da participação dos sujeitos em atividades sociais valendo-se
de instrumentos de mediação. (VIGOTSKI, 2003b,
p.78)
O ensino, segundo Vigotski, deve servir então como elemento
inerente aos processos de desenvolvimento da criança. E é durante tal
desenvolvimento dessas relações organizadas, que evoluem as funções psíquicas
superiores da criança. A partir da compreensão de que o bom ensino deve operar
sobre as conquistas de desenvolvimento ainda em aquisição e adquiridas com
auxílio do outro, surge o conceito desenvolvido por Vigotski, denominado Zona
de Desenvolvimento Iminente (ZDI):
A Zona de Desenvolvimento Iminente é
a distância entre o nível de desenvolvimento atual da criança, que é definido
com a ajuda de questões que a criança resolve sozinha, e o nível de
desenvolvimento possível da criança, que é definido com a ajuda de problemas
que a criança resolve sob orientação dos adultos e em colaboração com
companheiros mais inteligentes. (VIGOTSKI apud PRESTES 2010, p. 173)
Este é um dos conceitos centrais da teoria de Vigotski, é a
chamada Zona de Desenvolvimento Iminente, que é a distância que existe entre o
que a criança sabe fazer sozinha e o que pode fazer com a ajuda do outro. Para
Vigotski, a Zona de Desenvolvimento Iminente representa as funções ainda não
amadurecidas da criança, ou seja, as funções psicológicas superiores que se
encontram hoje em estágio embrionário, que estão hoje em processo de
amadurecimento, mas que amanhã estarão totalmente amadurecidas.
A criança tornar-se-á capaz de
realizar de forma independente, amanhã, aquilo que, hoje, ela sabe fazer com a
colaboração e a orientação. Isso significa que, quando verificamos as
possibilidades da criança ao longo de um trabalho em colaboração, determinamos
com isso também o campo das funções intelectuais em amadurecimento; as funções
que estão em estágio iminente de desenvolvimento devem dar frutos e,
consequentemente transferirem-se para o nível de desenvolvimento mental real da
criança. (VIGOTSKI apud PRESTES 2010, p.174)
Alguns autores costumam erroneamente chamar esta distância
do nível evolutivo da criança de Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP), em
virtude das traduções equivocadas das obras de Vigotski para a língua
portuguesa.
Portanto, defendemos que a tradução
que mais se aproxima do termo é zona de desenvolvimento iminente, pois sua
característica essencial é a das possibilidades de desenvolvimento, mais do que
do imediatismo e da obrigatoriedade de ocorrência, pois, se a criança não tiver
a possibilidade de contar com a colaboração de outra pessoa em determinados
períodos de sua vida, poderá não amadurecer certas funções intelectuais e,
mesmo tendo essa pessoa, isso não garante, por si só, o seu amadurecimento.
(PRESTES, 2010, p. 168)
As aulas, quando inseridas dentro da Zona de
Desenvolvimento Iminente (ZDI), permitem trabalhar sobre as funções ainda em
desenvolvimento, que não foram plenamente consolidadas, criando uma estreita
conexão entre aprendizagem e desenvolvimento, contribuindo para a formulação de
indicadores didáticos e avaliativos para o desenvolvimento infantil, quando
favorecido pela construção de um cenário de aula que considere o contexto
sócio-histórico dos alunos.
Parece-me que, do ponto de vista do
desenvolvimento, a brincadeira não é uma forma predominante de atividade, mas,
em certo sentido, é a linha principal do desenvolvimento na idade pré-escolar.
(VIGOTSKI, 2008, p.24)
As teorias de Vigotski se tornam
fundamentais para a compreensão e o resgate do valor e importância do jogo e
das brincadeiras. A contribuição principal de Vigotski sobre o jogo ou a
brincadeira infantil, é a sua valorização, acrescida pela estreita relação que
este autor estabelece entre o jogo e a aprendizagem.
Uma das situações que se apresentam
como importantes para a análise do processo de constituição do sujeito é a
brincadeira infantil. Rompendo com a visão tradicional de que a brincadeira é a
atividade natural de satisfação de instintos infantis, Vygotski apresenta o
brincar como atividade em que tanto significados sociais e historicamente
produzidos são veiculados quanto novos podem ali emergir. (ZANELLA e ANDRADA,
2002, p.128).
As ações lúdicas no jogo possibilitam a criação da Zona de
Desenvolvimento Iminente (ZDI), onde o
ambiente social repleto de cooperações e interações coletivas, são capazes de
promover ainda a internalização e apropriação de saberes, criando aprendizagens
significativas, que conduzem ao o pleno desenvolvimento das capacidades
motoras, cognitivas e socioafetivas de
forma plena.
A Zona de Desenvolvimento Iminente é
a distância entre o nível de desenvolvimento atual da criança, que é definido
com a ajuda de questões que a criança resolve sozinha, e o nível de
desenvolvimento possível da criança, que é definido com a ajuda de problemas
que a criança resolve sob orientação dos adultos e em colaboração com
companheiros mais inteligentes. (VIGOTSKI apud PRESTES 2010, p. 173)
Logo, o brincar da
criança passa a ser uma transformação criadora, ela também tem a possibilidade
de interagir e de criar, transformando-se em sujeito e em produtor de cultura
humana. Dentro do jogo, resgata-se na criança sua posição de sujeito histórico
e social, pois ela é capaz de criar e de interagir com o outro, ela imagina e
age, se apropria da cultura e dos códigos sociais através do brincar, ela
participa ativamente como sujeito histórico e como protagonista no processo
lúdico.
É disso que surge a brincadeira, que
deve ser sempre entendida como uma realização imaginária e ilusória de desejos
irrealizáveis, diante da pergunta "por que a criança brinca?". A
imaginação é o novo que está ausente na consciência da criança na primeira
infância, absolutamente ausente nos animais, e representa uma forma
especificamente humana de atividade da consciência; e, como todas as funções da
consciência, forma-se originalmente na ação. (VIGOTSKI, 2008, p.25)
Portanto, os jogos e brincadeiras possuem papel fundamental
para a formação da plasticidade cerebral através de processos criativos, que
irão transformar qualitativamente as funções cerebrais e provocar o
desenvolvimento. As atividades lúdicas do brincar, quando realizadas de forma
coletiva e constituídas de sentido e de significados, possibilitam a criação da
Zona de Desenvolvimento Iminente no ambiente educacional, que por sua vez,
promove um ensino de qualidade, que é capaz de guiar o desenvolvimento infantil.
Qualquer função psicológica superior
no processo de desenvolvimento infantil se manifesta duas vezes, primeiramente
como função da conduta coletiva, como a organização da colaboração da criança
com as pessoas que a rodeiam; depois, como uma função individual da conduta,
como uma capacidade interior da atividade do processo psicológico. (VIGOTSKI 1997, p.109)
A sistematização de aulas alicerçadas dentro da chamada
Teoria Histórico Cultural de Vigotski, permitiu a criação de importantes
instrumentos pedagógicos e de estratégia de ensino pautadas em um ensino, cuja
ênfase se deu sempre na promoção de interações e intercâmbios entre os alunos,
construção de atividades cooperativas entre alunos-alunos e
alunos-professores(monitores), elaboração de atividades em ambientes lúdicos.
Todos estes conceitos e instrumentos da teoria de Vigotski, nos auxiliaram na
construção de instrumentos pedagógicos e de estratégias para o planejamento das
aulas em vivências de práticas corporais aquáticas e em jogos e brincadeiras
tradicionais para as crianças matriculadas no projeto de extensão LABBRINC da
Universidade Estadual de Goiás. Estas estratégias pedagógicas e instrumentos
educacionais, nas aulas de natação infantil e em jogos e brincadeiras, pautadas
na Teoria Histórico Cultural de Vigotski, ajudaram a criar um ambiente
favorável de aprendizagem, onde as crianças, que outrora adquiriram atrasos no
desenvolvimento motor e limitações cognitivas e socioafetivas, devido ao
embotamento social provocado pelo prolongado período de restrições de
mobilidade e de regras sanitárias na pandemia, puderam de forma plena e
satisfatória superar todas as limitações e atrasos advindos deste período,
adquirindo novas habilidades, conceitos e saberes no âmbito das práticas
corporais, com conteúdos relevantes que envolveram as vivências em natação
infantil e em jogos e brincadeiras
tradicionais.
METODOLOGIA / PERCURSO DIDÁTICO
PEDAGÓGICO
O projeto de extensão LABBRINC foi criado para atender a
comunidade infantil de Goiânia, com o objetivo de resgatar a cultura lúdica
através de vivências em atividades de natação, jogos e brincadeiras
tradicionais. Tem também como finalidade auxiliar na formação de alunos dos
cursos de Educação Física e Fisioterapia da UEG - Unidade ESEFFEGO, em
Goiânia.
As ações extensionistas do projeto LABBRINC objetivam
promover a interação entre a universidade e a comunidade externa através de
atividades lúdicas oferecidas a crianças entre 05 a 12 anos de idade, com
execução de ações dentro da chamada cultura corporal, cujos conteúdos são os
jogos, as brincadeiras, os esportes e também a natação. Estas práticas
corporais são atualmente oferecidas de forma pública e gratuita pela
Universidade Estadual de Goiás, e são realizadas semanalmente dentro da
Faculdade do Esporte, Unidade ESEFFEGO (Centro de Excelência dos Esportes) e
vinculado à UEG, localizada na cidade de Goiânia, Goiás. As atividades lúdicas,
constituem-se num dos eixos mais importantes deste projeto, pois abarca o
período da infância onde as ações ligadas ao brincar formam a atividade
principal desta fase humana, promovendo as mais diversas e diferentes formas de
desenvolvimento na criança. Todas as aulas foram planejadas de forma
sistematizada e executadas, de forma semanal, com conteúdos vinculados à natação
infantil e também em jogos e brincadeiras tradicionais. As aulas são ofertadas
quatro vezes por semana, com duração de uma hora cada aula. As atividades são
ministradas por monitores, que são estudantes da graduação dos cursos de
Educação Física e de Fisioterapia, sendo
supervisionadas e orientadas pelo coordenador do projeto. Os princípios
metodológicos são construídos segundo a Teoria Histórico Cultural, e pautados no conceito da chamada Zona de
Desenvolvimento Iminente (ZDI) para o contexto das aulas. A construção das
aulas de natação infantil, por exemplo, é realizada através de conteúdos
lúdicos que auxiliam as crianças no chamado processo de adaptação ao meio
líquido. Através de brincadeiras tradicionais em meio aquático, constrói-se um
contexto lúdico que fornece sentidos e significados aos movimentos e às
práticas corporais em meio aquático. Neste ambiente lúdico, a criança se
apropria de forma coletiva, cooperativa e prazerosa, com a ajuda dos colegas e
dos professores, dos fundamentos e conceitos básicos da natação, tais como a
flutuação, o equilíbrio, a respiração, o palmateio, a inversão e a propulsão
(braçadas e pernadas).
As aulas foram construídas dentro de um contexto lúdico,
onde as crianças aprenderam os fundamentos básicos do nadar, através do
brincar. As brincadeiras foram adaptadas ao meio líquido, geralmente
brincadeiras tradicionais ou jogos populares foram realizados dentro do
ambiente aquático, onde foram efetuadas certas mudanças nas regras, que
permitiram a introdução do brincar dentro da água, como por exemplo, a inclusão
das brincadeiras tradicionais “Elefante
Colorido”, “Caça ao Tesouro”, “O Rei Mandou” e etc. O planejamento semanal das
aulas foi realizado com base na chamada Teoria Histórico Cultural, buscando
sempre a sistematização de aulas capazes de potencializar a criação da Zona de
Desenvolvimento Iminente (ZDI), através do estímulo das interações e relações
entre aluno-aluno e aluno-professor. Através do brincar, os alunos se
apropriaram dos conhecimentos da cultura corporal aquática, dos conceitos, e de
todos os saberes relevantes para um deslocamento autônomo e independente na
água. Na intenção de superar o modelo
técnico do ensino da natação infantil, consideramos neste projeto o brincar
como sendo a atividade mais importante da infância, por promover o
desenvolvimento das chamadas funções cognitivas, motoras e socioafetivas das
crianças, e ainda por facilitar na criação de estratégias pedagógicas de
aprendizagem na infância.
Destaca-se ainda, que projeto extensionista LABBRINC,
também teve as suas atividades presenciais suspensas no período mais crítico da
pandemia, entre os anos de 2020 e 2021, funcionando de forma apenas virtual
neste período, porém, a partir do ano de 2022, houve o retorno das atividades
presenciais e com o resgate das vivências infantis, com conteúdos importantes e
relevantes para o desenvolvimento das crianças, tais como os jogos, as
brincadeiras tradicionais e a natação infantil. A relevância deste projeto, se
tornou ainda maior no atual contexto de “pós-pandemia”, contribuindo de forma
eficaz para a superação de limitações, atrasos e déficits de desenvolvimento
infantil, oriundos do contexto de pandemia. A atividade mais importante na
infância é o brincar, onde as atividades lúdicas ocupam papel fundamental para
o desenvolvimento pleno e integral das crianças, nos aspectos que abrangem o
cognitivo, o emocional, o social, o psicológico, o motor e o cultural na
infância.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Durante o período mais crítico da pandemia de Covid-19, o
projeto LABBRINC funcionou de forma virtual durante mais de dois anos,
respeitando todos os protocolos sanitários, e com o retorno ao ensino
presencial ocorrendo somente no ano de 2022, sendo que várias crianças
retornaram ao projeto e muitas outras crianças novatas também se matricularam
para as aulas de jogos e de natação infantil. No total houve a participação de
60 crianças matriculadas, e divididas nas turmas de natação infantil e em jogos
e brincadeiras tradicionais. As aulas de natação envolveram, em sua maioria,
alunos iniciantes, que foram incluídos nas denominadas turmas de iniciação à
natação. Na turma de natação, foram ministrados conteúdos básicos do nadar,
tais como a flutuação, o equilíbrio, o palmateio, a inversão, a respiração, a
apneia e a propulsão (braçadas e pernadas). Sendo assim, observamos no projeto
LABBRINC, que no retorno de algumas crianças às práticas corporais em natação e
em jogos e brincadeiras tradicionais, após o auge da pandemia de Covid-19, muitas
delas apresentaram inicialmente uma grande dificuldade em realizar
certas atividades motoras na água e também percebeu-se que muitas não conseguiam se concentrar na
execução de certas atividades, algumas vezes não compreendendo conceitos ou
regras ensinadas pelos professores-monitores. Certas dificuldades sempre
existiram, mesmo antes da pandemia, porém, notamos naquele momento, uma maior
frequência no surgimento destas dificuldades nas crianças, do que
anteriormente. Tais limitações foram observadas principalmente nos primeiros
meses do retorno presencial das práticas corporais. As principais dificuldades
estavam relacionadas à falta de concentração, dificuldades na realização de
movimentos básicos, falta de coordenação motora, dificuldades de comunicação,
vícios posturais e falta de atenção.
Mas, com a criação de estratégias pedagógicas, alicerçadas
na construção de um ambiente lúdico e favorável à criação da Zona de
Desenvolvimento Iminente (ZDI), com práticas corporais coletivas e
cooperativas, que serviram como facilitadores das relações entre as crianças e
seus pares, e também entre as crianças e os professores-monitores, com essas
intervenções pedagógicas no âmbito das aulas,
foi possível promover vivências coletivas/cooperativas (grupos de crianças)
e dentro de um contexto lúdico, que permitiram a superação das limitações e
atrasos das capacidades motoras, cognitivas e afetivossociais advindas do
período de restrições de mobilidade e isolamento social da pandemia, ao ponto
de, atualmente, tais dificuldades e atrasos motores não serem mais notados
entre as crianças participantes do projeto.
Notamos ainda, que as atividades presenciais e coletivas,
somadas ao ambiente lúdico de aprendizagem, criaram condições e os instrumentos
capazes de produzir o desenvolvimento pleno dos alunos, ao ponto de superarem
os entraves psicológicos e as dificuldades motoras adquiridas durante o grande
período de isolamento social, no qual as crianças foram submetidas durante o
período auge da pandemia. Acreditamos que as aulas foram capazes de criar um
ambiente favorável para uma aprendizagem das práticas em cultura corporal,
pois, dentro do contexto criado pela Zona de Desenvolvimento Iminente (ZDI), as
crianças interagiram umas com as outras, auxiliadas pelos professoresmonitores
e através de um contexto lúdico, possibilitou a criação de um ensino, que
verdadeiramente guiou o desenvolvimento infantil, no que tange os fundamentos
das práticas corporais infantis.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O ano de 2022, marca o retorno das atividades presenciais
em práticas corporais (jogos tradicionais e natação infantil) no Projeto de
Extensão LABBRINC, na Universidade Estadual de Goiás. Após o período mais
crítico da pandemia, no momento de retorno às aulas presenciais, foram
observadas algumas dificuldades de aprendizagem na maioria dos alunos durante
as práticas corporais aquáticas, relacionadas principalmente à falta de
atenção, dificuldades de compreensão, retrocessos motores e principalmente uma baixa
consciência corporal, relacionada sobretudo ao longo período de restrição de
vivências motoras relevantes. Tais dificuldades, retrocessos e limitações
motoras estavam correlacionadas ao grande período de isolamento e
distanciamento social experimentado pelas crianças no período de pandemia do
vírus Sars-Cov-2. Entretanto, através de intervenções construídas com
abordagens pedagógicas sistematizadas na Teoria Histórico Cultural e um enfoque
educacional, pautado em processos de
ensino e aprendizagem com conteúdos lúdicos, em práticas corporais de jogos
tradicionais e em iniciação à natação infantil, todas os déficits motores, as
barreiras afetivos sociais, as dificuldades cognitivas e a baixa consciência corporal, que foram inicialmente
observadas nos alunos, foram totalmente superadas e solucionadas.
O resgate dos elementos lúdicos através de atividades de
jogos e de brincadeiras na natação infantil, foi de fundamental importância
para o desenvolvimento pleno das crianças dentro do meio aquático. O brincar é
essencial para o desenvolvimento e para a vida da criança. A sociabilidade e a
aprendizagem realizada de forma coletiva, permitiu a criação da Zona de
Desenvolvimento Iminente (ZDI), onde os jogos e brincadeiras no meio aquático,
se constituíram em elementos fundamentais para este criativo processo de ensino
e aprendizagem na infância. As atividades presenciais e coletivas, somadas ao
ambiente lúdico de aprendizagem, criaram condições e os instrumentos capazes de
produzir o desenvolvimento pleno dos alunos, ao ponto de superarem os entraves
psicológicos e as dificuldades motoras adquiridas durante o grande período de
isolamento social, no qual as crianças foram submetidas. Acreditamos que as
aulas foram também capazes de criar uma verdadeira Zona de Desenvolvimento
Iminente, onde as crianças interagiram umas com as outras, auxiliadas pelos
professores-monitores e em um contexto lúdico, possibilitou assim, a criação de
um ensino que verdadeiramente guiou o desenvolvimento infantil no que tange os
fundamentos das práticas corporais, através de conteúdos da natação infantil e
de brincadeiras tradicionais.
REFERÊNCIAS
PRESTES,
Z. R. Quando Não é a Mesma Coisa:
análise de traduções de L.S. Vigotski no Brasil Repercussões no Campo
Educacional. 2010. 296 f. Tese (Doutorado em Educação) - Faculdade de Educação, Universidade de
Brasília, Brasília, 2010.
Universidade Federal de Minas Gerais. Filhos da Pandemia:
medicina avalia impacto da crise sanitária sobre o desenvolvimento infantil.
Universidade Federal de Minas Gerais, 2022. Disponível em: https://ufmg.br/comunicacao/noticias/filhos-da-pandemiamedicina-avalia-impacto-da-pandemia-sobre-o-desenvolvimento-infantil. Acesso em: 19/08/2023.
VIGOTSKI, Lev Semenovich. Obras escogidas V: fundamentos da defectologia. 5. ed. Madri:
Visor, 1997.
________________________. A Formação Social da Mente – o
desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. São Paulo: Martins
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________________________.
Psicologia Pedagógica. Porto Alegre:
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_________________________. A brincadeira e o seu papel no
desenvolvimento psíquico da criança. Tradução de Zóia Prestes. Revista Virtual de Gestão de Iniciativas
Sociais, n. 8, p.23-36, jun. 2008.
ZANELLA,
Andréia Vieira.; ANDRADA, Edia Grisard Caldeira. Processos de Significação no
Brincar: Problematizando a constituição do sujeito. Psicologia em Estudo, Maringá, v.07, n.02, p.127-133, jul/dez.
2002.
[1] Relato de experiência
sobre estratégias pedagógicas em práticas corporais infantis no pós-pandemia.
[2]
Professor do curso de Educação Física pela Universidade Estadual de Goiás,
Campus Metropolitano
ESEFFEGO. Pesquisa sobre
Infância e Vigotski. renato.coelho@ueg.br
FICHA CATALOGRÁFICA:
Formação Humana, Escola e Didática: lógica instrumental e lógica humanista em disputa. Anais...Goiânia(GO) PUC Goiás, 2023
Disponível em: www.even3.com.br/anais/xedipe
ISBN: 978-65-272-0102-1
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